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Fronteira virou cenário de guerra pelo controle do tráfico

31 dezembro 2018 - 09h35Campo Grande News

Horas depois de grupos de elite das Forças Armadas, da CIA e do FBI cruzarem a fronteira levando preso o traficante Guilhermo Diáz, chefe local do tráfico de drogas, bandidos rivais trocam tiros pelas ruas de Juárez usando balas traçantes.

“É isso que acontece quando você corta a cabeça da galinha”, disse um soldado para a agente do FBI que observava o tiroteio com binóculo do telhado de uma base americana.

O relato acima faz parte de “Sicário, Terra de Ninguém”, filme gravado em 2015 sobre a guerra contra os cartéis mexicanos de drogas na fronteira com os Estados Unidos. Mas poderia facilmente se tratar de fatos reais da fronteira entre Mato Grosso do Sul e o Paraguai.

A disputa à bala pelo controle do crime organizado em Ponta Porã e Pedro Juan Caballero é a “galinha sem cabeça” em uma fronteira bem menos famosa que aquela entre México e Estados Unidos, mas que produz seus horrores em proporção semelhante.

A diferença é que o chefão local do tráfico da guerra tupiniquim não foi preso e levado para o outro país para ser torturado e revelar informações sigilosas do esquema, como ocorre no filme do diretor franco-canadense Denis Villeneuve.

Galinha sem cabeça – Jorge Rafaat Toumani, o patrão da fronteira Ponta Porã-Pedro Juan Caballero, foi executado a tiros de metralhadora calibre 50 há dois anos e meio e até agora a “galinha sem cabeça” continua se debatendo.

Assim como ocorreu no segundo semestre de 2016 e nos 12 meses de 2017, o ano de 2018 foi marcado pelas execuções quase diárias e a qualquer hora do dia na fronteira imaginária que divide Ponta Porã e Pedro Juan Caballero.

Com Rafaat morto e o filho da terra Jarvis Gimenes Pavão extraditado do Paraguai e trancafiado no Presídio Federal de Mossoró (RN), a guerra se intensificou pelo controle do milionário negócio das drogas e armas.

Galã – Após o 2017 sangrento, a fronteira começava a achar que tudo voltaria ao normal sob a liderança de Elton Leonel Rumich, o Galã, acusado de ter orquestrado a execução de Rafaat para se tornar o novo chefão do pedaço.

Mas o brasileiro decidiu fazer uma tatuagem nova num estúdio da badalada praia de Ipanema e acabou preso, em fevereiro, por agentes da polícia carioca. Caía por terra mais uma tentativa de criar um líder para assumir o lugar de Jorge Rafaat.

O governo paraguaio falou em aproveitar o momento do crime sem liderança para atacar, mas nada de concreto foi feito. Com a galinha mais uma vez se debatendo sem cabeça, as mortes continuaram e atingiram até membros da segurança pública.

Policial morto – No dia 6 de março, o investigador da Polícia Civil Wescley Vasconcelos Dias, o Baiano, foi executado com pelo menos 30 tiros de fuzil calibre 7.62 quando parava em sua casa, a poucos quarteirões da delegacia, com um carro oficial descaracterizado.

O caso ficou com a DEH (Delegacia Especializada de Homicídios), alguns suspeitos foram presos, mas até agora a execução de Wescley não foi esclarecida – a exemplo de dezenas de outros crimes de pistolagem que acontecem naquela fronteira esquecida pelos governantes dos dois países.

No Paraguai surgiram boatos de que o policial foi morto a mando do traficante brasileiro Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, 32, o “Minotauro”, um ex-soldado raso do PCC (Primeiro Comando da Capital) que aproveita a bagunça para tentar se firmar como novo patrão da fronteira.

Minotauro – Foragido da justiça de São Paulo desde agosto de 2012 após chefiar o tráfico de drogas em Bauru (SP), Minotauro se mudou para Pedro Juan Caballero, onde passou a usar identidade falsa em nome de Celso Matos Espíndola.

Ele teria ordenado a execução após descobrir que o policial estava em seu encalço. Wescley teria confirmado a identidade falsa usada por Minotauro e se preparava para prendê-lo, segundo policiais paraguaios. A polícia sul-mato-grossense nunca emitiu qualquer declaração oficial sobre essa história.

Sequestros e mortes – Em poucos dias a execução do policial Wescley virou apenas estatística. Outras execuções violentas aconteceram em seguida numa terra onde até as pessoas de bem se acostumaram com o banho de sangue e as autoridades policiais fecham os olhos para também não se tornarem alvos.

Pessoas continuaram sendo sequestradas de casa por homens armados e executadas no meio da rua, como aconteceu em agosto com Norberto Benitez Caballero, 38, funcionário de uma das fazendas do ex-presidente paraguaio Horacio Cartes.

O corpo de Norberto foi encontrado perto do aeroporto internacional de Pedro Juan Caballero na manhã seguinte ao sequestro. Ele foi torturado, teve as mãos cortadas e o rosto queimado. A caminhonete usava no sequestro, uma S10 branca, foi incendiada ao lado do corpo.

Guerra declarada – Nem mesmo a advogada de Jarvis, Laura Casuso, foi poupada. No dia 12 de novembro, ela foi executada por pistoleiros quando saía de uma reunião em Pedro Juan Caballero.

No início de dezembro, um novo ataque a tiros, dessa vez contra um sobrinho de Jarvis Pavão, reforçou a tese de que Minotauro luta para assumir sozinho o controle do tráfico na Linha Internacional. Para isso decidiu eliminar os cocorrentes diretos, entre eles os remanescentes do clã Pavão.

Pedro Gimenez da Luz, o Pedrinho, estava em uma caminhonete Ford blindada com dois seguranças e escapou ileso dos tiros de fuzil AK-47 calibre 7,62.

Dois dias após o ataque a Pedrinho, o tio de Pavão, o ex-candidato a prefeito de Ponta Porã Chico Gimenez foi preso com outras pessoas e um arsenal em sua casa, na Rua Calógeras, no centro da cidade.

Chico estaria preparando um ataque a Minotauro para defender a família, já que o bandido teria colocado vários de seus parentes em uma lista de pessoas a serem executadas. Gimenez ficou duas semanas na cadeia e atualmente cumpre prisão domiciliar.

Não há estatísticas confiáveis sobre o número de execuções nas duas cidades. O Campo Grande News apurou que de janeiro a novembro, ocorreram 119 assassinatos no Departamento (equivalente a estado) de Amambay, onde fica também Capitán Bado, outra cidade marcada pela guerra do crime.

E as execuções continuam. Na noite de quarta-feira (26), Cleiton Gustavo Valdez Martinez, 21, foi morto com 20 tiros de fuzil por pistoleiros encapuzados quando estava na casa do sogro, no bairro Carandá Bosque, em Ponta Porã.

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