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Política

Segundo turno elege Rodrigo Paz presidente da Bolívia

20 outubro 2025 - 08h32Gesiane S. Lourenço

Neste domingo (19) poucos minutos depois das 20h, o Tribunal Supremo Eleitoral anunciou os resultados preliminares do segundo turno das eleições gerais na Bolívia. Naquele momento, Rodrigo Paz se tornou o primeiro cidadão boliviano a vencer a presidência em um segundo turno no país. Além disso, ele também alcançou outro marco, tornando-se o primeiro político a vencer com ampla maioria em sua primeira candidatura presidencial.

Paz obteve 54,61% dos votos, conseguindo captar muitos eleitores que, no passado, apoiaram o Movimento ao Socialismo (MAS), do ex-presidente Evo Morales e do atual mandatário, Luis Arce.

Ainda na noite de ontem, Paz proferiu seu primeiro discurso como presidente eleito. Cercado por sua família e líderes do PDC, mas na ausência de Edmand Lara, seu companheiro de chapa, ele agradeceu a vários líderes pelos telefonemas de felicitação, elogiou o trabalho realizado pelo TSE e lamentou que a guerra suja tenha manchado a campanha eleitoral.

Uma longa jornada

Um segundo turno eleitoral nunca havia sido realizado antes na Bolívia. Em 2009, Evo Morales venceu com 64,22% dos votos e, em 2014, venceu com 61,36%. Em 2019, parecia que a Bolívia iniciaria um segundo turno entre Morales e Carlos Mesa. De fato, dados oficiais do Tribunal Supremo Eleitoral, por meio do TREP (Tribunal Regulador Eleitoral), sugeriam que essa era uma possibilidade. Mas tudo mudou após uma queda de energia e um silêncio ensurdecedor de 24 horas, durante o qual as tendências mudaram e tentou-se impor uma vitória apertada ao líder do MAS, evitando um segundo turno.

A história de 2019 é bem conhecida. Ninguém acreditava no milagre eleitoral. Ninguém aceitava que, em questão de horas, centenas de milhares de votos chegassem, eliminando efetivamente a possibilidade de um segundo turno. Até mesmo as missões de observação eleitoral da OEA e da União Europeia expressaram dúvidas sobre o resultado, dúvidas que levaram a manifestações de rua e a um motim policial que forçou a renúncia de Evo Morales e Álvaro García Linera como presidente e vice-presidente.

Aquele legado inacabado de 2019 foi o pano de fundo para o presente. Porque a história política da Bolívia chegou a 19 de outubro de 2025 com ares de maturidade institucional. Pela primeira vez em quase dois séculos de existência republicana, o país foi a um segundo turno presidencial para definir o chefe de Estado. Não se tratou de um mero detalhe técnico: foi a materialização de um princípio democrático consagrado na Constituição de 2009, aquela Carta Magna que, para além do seu significado simbólico, estabeleceu uma nova forma de resolução de disputas de poder. Nunca houve segundo turno na Bolívia. Até então, as urnas eram apenas a primeira metade de uma batalha que terminou nos corredores do Congresso, onde os votos dos cidadãos se diluíram em meio a pactos, pressões e acordos de última hora.

Durante grande parte do século XX, e mesmo no início do século XXI, os presidentes não eram eleitos por maioria popular direta, mas por uma Assembleia fragmentada que atuava como árbitro e plataforma. Desde o retorno da democracia em 1982, nenhuma eleição geral obteve maioria absoluta. Candidatos venceram nas ruas, mas perderam nas urnas. Alianças decidiram o que o voto não pôde.

Víctor Paz Estenssoro retornou ao poder em 1985 não pela magnitude de sua vitória, mas por um pacto com seus adversários. Ele deteve a hiperinflação ao custo de um ajuste econômico traumático. Em 1989, um acordo ainda mais inusitado entre Banzer e Jaime Paz Zamora — que ficou em segundo lugar nas pesquisas — levou o líder do MIR à presidência, em meio a negociações que misturaram poder, conveniência e até mesmo rixas reconciliadas pela força. A democracia boliviana sobreviveu em meio a sussurros de pactos e à desconfiança do povo.

Essa fórmula se repetiu inúmeras vezes. Em 1993, Gonzalo Sánchez de Lozada selou uma aliança com o MBL; em 1997, foi a vez de Hugo Banzer, apoiado por setores empresariais e partidos menores; em 2002, a história beirava o absurdo: o Congresso elegeu Sánchez de Lozada em detrimento de Evo Morales, apesar da diferença mínima de votos.

Em 2005, esse ciclo foi quebrado. Evo Morales Ayma venceu com 53,74% dos votos, a primeira maioria absoluta desde 1982. O Congresso não precisava mais decidir. A história política do país mudou em um único dia. Com Morales, uma nova era começou: a do voto esmagador e do Estado Plurinacional, selado em 2009 com uma Constituição que, entre muitas mudanças, estabeleceu o segundo turno presidencial como garantia de legitimidade.

O paradoxo da história boliviana foi que essa ferramenta — o segundo turno — levou dezesseis anos para ser implementada. Nem em 2009, nem em 2014, nem mesmo no controverso 2019, um segundo turno foi necessário. Evo Morales venceu duas vezes com mais de 60% dos votos, e Luis Arce o fez em 2020 com 55%. Somente em 2025, após uma fragmentação do voto e um realinhamento do mapa político, o país se viu diante de seu primeiro segundo turno. As regras haviam sido escritas anos antes, mas só agora foram postas à prova. A democracia, como os antigos relógios do Palácio Legislativo, começou a marcar seu tempo exato.

A vitória de Rodrigo Paz Pereira marca, portanto, uma nova virada na história política da Bolívia. Não foi apenas uma eleição acirrada, mas o encerramento de uma era. Pela primeira vez, o segundo turno serviu para determinar uma liderança com total legitimidade, sem acordos de bastidores ou congressistas decidindo pela maioria. A cidadania era, em última análise, a única árbitra.

O dia 19 de outubro de 2025 permanecerá na memória nacional como o dia em que a Bolívia completou sua transição de uma república negociada para uma democracia majoritária. Não houve épicos militares nem discursos grandiloquentes, apenas a rotina austera de um país que aprendeu — após séculos de instabilidade — que o poder legítimo nasce da vontade do povo.

Na noite de ontem, quando os resultados oficiais foram anunciados e Rodrigo Paz se declarou presidente eleito do Estado Plurinacional, a Bolívia escreveu uma nova página em sua história democrática: uma página em que o poder é finalmente conquistado com o voto limpo, direto e soberano de seu povo. *Informações do El Deber

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