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Venezuelanos investem em bitcoin para encarar desemprego, hiperinflação e falta de notas

11 novembro 2017 - 10h00G1

Enquanto a crise econômica na Venezuela diminui a oferta de empregos, o abastecimento de mercadorias e o poder de compra dos consumidores, a situação degradante aumenta o interesse dos venezuelanos pelas criptomoedas, especialmente o bitcoin.

Mesmo esse mercado não sendo regulado no país, o que dificulta a medição de estatísticas que mostrem seu crescimento, três especialistas ouvidos pelo G1 apontam que as curvas de transações, investimentos e mineração no país só têm subido nos últimos anos.

O Bitcoin foi criado em 2008 e é a primeira moeda com sucesso a usar criptografia. Essa tecnologia de segurança é usada para manter as transações seguras e ocultas. Diferente da moeda física, as moedas virtuais não são emitidas pelo Banco Central de nenhum país. A “criação” da moeda, chamada de mineração, é feita por pessoas, os mineradores, com acesso à internet e um programa de computador potente e complexo.

Um negociador venezuelano que atua no mercado de moedas virtuais há quatro anos defende o bitcoin como uma saída para uma série de problemas ocasionados pela crise no país, que tem a economia muito controlada pelo governo. "Tem controle de preço, de câmbio, de absolutamente tudo. E os venezuelanos se deram conta de que o bitcoin tem sido como uma espécie de salva-vidas que têm para poder suprir muitas necessidades que surgem nessa repressão financeira”, diz o negociador, que pediu para não ser identificado para preservar sua identidade diante de um “governo que persegue”.

Segundo ele, o maior crescimento do mercado vem da mineração de bitcoins. Na Venezuela, o baixo custo da energia elétrica é uma vantagem para os mineradores. Na visão do negociador, o baixo salário mínimo e o desemprego são outros incentivos à geração de bitcoins. “Um minerador está produzindo de 12 a 15 dólares por dia. No mês, isso é 6 vezes o salário mínimo venezuelano. Então aí há um tremendo incentivo para minerar. Pelo menos [ele] tem uma fonte de ingresso eterna para a economia da família”, afirma.

A moeda virtual supre outras necessidades que os venezuelanos enfrentam no dia a dia da crise econômica. Com bitcoins, podem comprar no exterior aquilo que não encontram no mercado nacional, caracterizado pelo desabastecimento, e ainda driblando o controle de câmbio feito pelo Banco Central.

Também há demanda por bitcoins para o envio de remessas para familiares que deixaram o país e vice-versa. Há também quem compre bitcoins simplesmente para investir dinheiro em uma moeda que vem se valorizando, ao contrário do bolívar.

E cresce no país, ainda que mais timidamente do que os outros usos, a aceitação de bitcoins como pagamento no comércio local. Com uma hiperinflação que supera os 530% - estimada pelo Parlamento controlado pela oposição; o governo não divulga o dado -, escassez de notas e restrições de saque nos bancos, o comércio foi obrigado a transitar ao uso de cartão. O que por sua vez obrigou os venezuelanos a fazerem mais filas para esperar pela cobrança eletrônica.

“As redes para processar cartões de débito e crédito não estão dando conta”, diz o negociador. “Toda essa situação está colocando um caldo de cultivo perfeito para que o bitcoin vá se desenvolvendo e penetrando com mais força na população”.

Segundo um mapa colaborativo em que usuários cadastram estabelecimentos que aceitam bitcoins, há mais de 60 locais na Venezuela - como hotel, livraria e empresas de informática - em que os consumidores podem usar a moeda virtual.

Crescimento das transações

O brasileiro Rodrigo Souza, fundador de uma empresa que lançou uma corretora de bitcoins na Venezuela, a SurBitcoins, diz que os venezuelanos enxergam a moeda virtual como uma “válvula de escape” para a crise.

“No Brasil, enxergam o bitcoin como uma moeda que você vai comprar para ganhar dinheiro. Na Venezuela o bitcoin é visto de outra maneira. É uma situação de vida ou morte. Ou tenho esse dinheiro que o governo imprime ou um dinheiro que vale alguma coisa”, diz. “A população tem uma válvula de escape e enxerga o bitcoin como uma moeda estrangeira, só que mais fácil de ter acesso do que o dólar”, acrescenta.

A Surbitcoin começou a operar na Venezuela em agosto de 2014 com 60 usuários cadastrados. Em fevereiro deste ano já tinha 120 mil usuários ativos. Naquele mês, a empresa precisou paralisar suas operações porque o banco a que era vinculada fechou sua conta por pressão do governo, segundo conta Rodrigo. "Era comum a polícia secreta da Venezuela interrogar o gerente do banco pra obter os registros das pessoas, e o banco negava isso. Também veio atrás da gente e a gente negou", diz.

O empreendedor trabalha na abertura de uma nova empresa na Venezuela, que vai operar como uma plataforma de anúncios, com vendedores que passam por uma avaliação, e sem a dependência de um banco.

O brasileiro explica que o crescimento da empresa venezuelana foi mais rápido do que a que opera no Brasil, onde há uma população muito maior e a plataforma esperou quatro anos para conquistar 100 mil usuários. Além disso, o volume de negócios na Venezuela é três vezes maior do que no Brasil, segundo Rodrigo, porque lá há mais consumidores que compram quantidades pequenas de bitcoins – o equivalente a de R$ 5 a R$ 15 ao mês.

Prisões de mineradores

No entanto, o real volume das transações é difícil de medir porque as negociações de bitcoins são feitas entre pessoas e os venezuelanos buscam preservar sua privacidade ao negociar a moeda, usando grupos fechados nas redes sociais e aplicativos com criptografia, como o Whatsapp e o Telegram.

Apesar de não ser um mercado regulado, tampouco há uma lei no país que proíba as moedas virtuais. Mas há um receio permanente de uma possível repressão do governo, que já prendeu mineradores sob acusações de delitos informáticos, financiamento ao terrorismo, lavagem de dinheiro e fraude de câmbio.

Essas foram algumas alegações que o economista e então funcionário da Surbitcoin na Venezuela Daniel Arráez ouviu em março de 2016, quando foi preso preventivamente pelo Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional, o Sebin. Arráez foi convocado a depor depois que dois mineradores foram presos na cidade de Valencia. Ele seria preso por 45 dias, mas ficou sete meses no centro de detenção do Sebin até que uma audiência o liberou sem acusações.

“Foram sete meses detido em condições complexas, porque tinha que dividir um espaço muito pequeno, de 3 metros por 4 metros com 14 pessoas”, conta. “Disseram que estavam investigando porque aparentemente é um trabalho ilegal na Venezuela, apesar de que não há nenhum marco regulatório que o proíba. Que eu estava cometendo um delito, de lavagem de dinheiro, que estava associado para cometer crimes”.

Enquanto seu processo segue aberto, Arráez voltou a trabalhar como consultor econômico, mas diz enxergar um futuro promissor para o bitcoin em seu país. Ele acredita que o governo poderia aproveitar o “boom das cripomoedas” e implementar uma regulação do mercado, beneficiando sua economia.

“O governo poderia fazer uma lista de empresas ou indivíduos que usam energia para mineração e cobrar deles uma tarifa extra de energia. Isso geraria uma renda para o governo, por exemplo”, sugere. “Também poderia se beneficiar do investimento em criptoativos, se quer se desprender da dependência do dólar americano”, acrescenta.

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