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Retrospectiva: 2020 foi o ano marcado pelo Pantanal em Chamas

Os picos bateram recordes em agosto e setembro, contabilizando 4,344 milhões de hectares de área queimada até o dia 11 de novembro de 2020 o que representa 29% do Bioma

22 dezembro 2020 - 11h05Mariana Conte
Incêndios na reserva Serra do AmolarIncêndios na reserva da Serra do Amolar   Foto: Corpo de Bombeiros

Sem dúvidas o ano de 2020 ficará marcado não apenas pelo “boom” do coronavírus mas também por um desastre ambiental, as queimadas no Pantanal, um incêndio florestal sem precedentes, do qual não se tem registros documentados de incêndios desta proporção nos últimos 50 anos.

Nos últimos anos, as queimadas no Pantanal vêm aumentando expressivamente por diversos motivos, dos quais os mais comuns são as causas humanas, sejam acidentais, sejam criminosas.

As queimadas e o desmatamento são práticas comumente interligadas, pois realiza-se o desmatamento de áreas, para formação de pastagens, e faz-se a queimada, na tentativa de adubagem e preparo do solo para formação dos pastos. Essas práticas geram resultados nocivos à saúde humana e perda da biodiversidade animal e vegetal da Terra.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as queimadas na região do Pantanal brasileiro aumentaram significamente em 2020, quando comparado ao mesmo período do ano de 2019. Considerando o período de janeiro a dezembro de 2019, foram registrados 10.025 focos de incêndio, em 2020, foram registrados 22.044 focos. Até então, o recorde era de 12.536 focos de incêndio, no ano de 2005, fato esse superado nos sete primeiros meses de 2020. Os picos bateram recordes em agosto e setembro, contabilizando 4,344 milhões de hectares de área queimada até o dia 11 de novembro de 2020 o que representa 29% do Bioma, segundo o sistema de alarmes da LASA-UFRJ.

De acordo com informações da SOS Pantanal, organização não governamental que trabalha em defesa do bioma Pantanal e na divulgação da natureza e cultura pantaneira, são 4,5 milhões de hectares atingidos pelo fogo, afetando quase 30% do Bioma.

Essas práticas estão ligadas às atividades econômicas da agricultura e pecuária, sendo realizadas geralmente por sociedades tradicionais, indígenas e pequenos agricultores, na tentativa de adubagem do solo por meio das cinzas oriundas dessas atividades. No Pantanal, a situação não é diferente do habitual, uma vez que houve avanços nas áreas de plantio e pastagem decorrentes do aumento das atividades econômicas na região.

Diversas instituições atuaram na linha de frente do combate as queimadas. Segundo o coordenador-geral de Defesa Civil em Mato Grosso do Sul, Fábio Catarinelli só do Corpo de Bombeiros de MS 90% do efetivo foi utilizado no combate as queimadas.

O biólogo Gustavo Figueroa da SOS Pantanal disse ao Capital do Pantanal que a instituição atuou com suporte logístico, operacional e estrutural as equipes da linha de frente. “Captamos recursos para prevenção e combate às chamas, compramos bombas d`água, mangueiras e tanques pipas. Estamos também realizando apoio emergencial a fauna e flora, distribuindo cestas básicas a comunidade ribeirinha e o passo futuro é construir uma Brigada fixa pelo Pantanal, realizar treinamentos de pessoal, adquirir equipamentos para a restauração das áreas degradadas”, ressaltou.

Biodiversidade comprometida com as queimadas

Relatório de Avaliação do impacto do fogo sobre as Arara Azuis no Perigara, Pantanal-MT, realizado no mês de setembro deste ano relata que milhares de mamíferos, repteis, anfíbios e insetos perderam seus abrigos e ficaram sem alimento. Ainda não se tem número de espécies impactadas pelo fogo, mas houve grande perda de todas as formas de vida: plantas, animais e inúmeras relações ecológicas e funcionais

De acordo com a bióloga Neiva Guedes especialista em meio ambiente e conservação de espécies, do Instituto Arara Azul, na Fazenda São Francisco do Perigara, onde ocorre a maior concentração de araras azuis na natureza foi possível observar que apesar dos incêndios terem atingidos 92% da propriedade em agosto/2020, ele não ocorreu de forma homogênea. “Teve áreas que foram atingidas severamente, outras moderadamente e entre elas, algumas ilhas/bolsões que não foram queimadas. Certamente houve impacto direto sobre a fauna, queimando indivíduos ou grupos, como insetos, repteis e anfíbios. Aves podem ter sido impactadas nos ninhos, pois o fogo coincidiu com o início do período reprodutivo de muitas espécies. Mas como essa avaliação ocorreu um mês após os incêndios, não foram encontradas muitas carcaças e nem restos de animais”, explicou.

Com relação aos impactos sobre as araras azuis (Anodorhynchus hyacinthinus), observou-se que foram queimadas imensas áreas de palmeiras: acuri (Scheelea phalerata) e bocaiuva (Acrocomia totai), principais itens consumidos por elas, que são aves altamente especializadas na alimentação. “Logo, poderão sentir, num futuro próximo a escassez de alimento, o que poderá provocar estresse, baixa resistência e até o surgimento de doenças, além de deslocamentos e movimentação dos grupos”, lembrou a bióloga.

Com relação à reprodução, foram monitorados 21 ninhos sendo um ninho com ovo e três com um filhote cada um. Verificou-se que os incêndios afetaram 35% dos ninhos, quando comparados o mesmo período em 2018 e 2019. Apesar de tudo, observou-se que as araras-azuis ainda estão na propriedade, embora não estejam utilizando o dormitório tradicional na sede, foi registrado praticamente o mesmo número de araras avistadas em agosto de 2019, com número absoluto de 736 araras azuis, neste período e sem registro de perdas.

O médico veterinário do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) Diego Viana e coordenador do Projeto Felinos Pantaneiros disse que na região do Pantanal mais de cinco onças pintadas foram resgatadas. “Sendo duas na região da Serra do Amolar pela iniciativa do IHP com o Gretap - MS, e no Mato Grosso pela iniciativa de várias instituições como o Ampara Silvestre. Na Serra do Amolar encontramos 17 espécies diferentes de animais mortos, entre elas algumas ameaçadas de extinção como a anta e o mutum de penacho”, afirmou.

Consequências das queimadas

As consequências das queimadas, de modo geral, só trazem aspectos negativos, e na região do Pantanal esse fator não é diferente. A perda da biodiversidade é o pior dos problemas enfrentados na região, pois trata-se de uma área riquíssima em fauna e flora. Aves, répteis, mamíferos, peixes e insetos, todos sofrem com a ocorrência de queimadas.

“Não apenas o meio ambiente perde, mas os seres humanos também, porque dependemos da natureza para viver. Todo mundo perde. Por isso o manejo do fogo tem que ser feito de forma controlada”, salientou o biólogo Gustavo Figueroa da SOS Pantanal.

Para o veterinário Diego Viana que trabalha na linha de frente dos resgates da fauna no Pantanal também complementou que todos perdem. “Isso envolve desde o morador da cidade até os ribeirinhos, os indígenas, os produtores rurais e todos os grupos que aqui vivem e são afetados pelo fogo. Então é responsabilidade de todos nós repensarmos no Planeta que agora está vivendo um momento de mudanças climáticas globais e que já está sentindo esses efeitos”, orientou

Alerta e Prevenção

Segundo Fábio Catarinelli da Defesa Civil a melhor forma de evitar um incêndio florestal é combater antes dele começar. “Ou seja, através da prevenção, evitando o uso do fogo e acompanhando sempre a questão das autorizações de queima controlada que são emitidos pelos órgãos ambientais. Não usar o fogo como forma de limpeza, não apenas na área rural, mas também na área urbana, pois esse ano também teve muitos incêndios em terrenos baldios, que provoca muitas consequências, uma delas é a fumaça que prejudica a qualidade do ar e a visibilidade, podendo causar acidentes”, afirmou. Catarinelli lembrou que esse ano teve um acidente com vítima fatal em função dos incêndios florestais.

Ele alerta a população que em caso de identificar incêndios florestais acionar as instituições que fazem o combate e a fiscalização. A Defesa Civil envia alertas via SMS informando riscos de incêndios, baixa umidade relativa do ar, tempestades e riscos de desastres. Para receber o alerta basta enviar um SMS para o 40199 e no corpo da mensagem colocar o CEP da residência que já estará cadastrado para receber os alertas. Um único usuário pode cadastrar mais de um CEP para receber os alertas e poderá optar por deixar de receber o serviço quando desejar.

 

Essas práticas geram resultados nocivos à saúde humana e perda da biodiversidade animal e vegetal da Terra. Foto: Gustavo Figueroa - SOS Pantanal

 

 

 

 

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