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Os avanços e desafios para a formação profissional inclusiva no IFMS

30 abril 2024 - 10h34Assessoria, IFMS

O dia 4 de abril de 2024 marcou a vida de dois estudantes do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS). Nessa data, Felipe Coinete e Mateus Quevedo foram diplomados técnicos pelo Campus Ponta Porã. Mas, se todos os anos, a instituição forma dezenas de estudantes em dez municípios do Estado, o que os torna especiais?

A diferença está no fato de que ambos são resultado de um trabalho de inclusão educacional realizado pelo Instituto Federal, que os permitiu conciliar atividades letivas às demais, como pesquisa, extensão e extracurriculares.

Felipe, que é pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA) - inclusive, abril é o mês de conscientização sobre o autismo -, concluiu o curso técnico integrado em Informática. E Mateus, que finalizou o curso técnico subsequente em Manutenção e Suporte em Informática, é pessoa Surda.

A trajetória dos jovens no IFMS, e dos demais estudantes da instituição que possuem algum tipo de deficiência, ajuda a compreender os avanços alcançados nos últimos anos para que pessoas com necessidades educacionais específicas possam ser atendidas e concluam a formação.

São histórias que também levam à reflexão sobre como ainda é possível melhorar, principalmente no que diz respeito a leis, políticas e programas públicos voltados à inclusão na educação.

Atendimento especializado

No ano de 2023, o IFMS tinha 160 estudantes com algum tipo de necessidade educacional específica nos campi Aquidauana, Campo Grande, Corumbá, Coxim, Dourados, Jardim, Naviraí, Ponta Porã e Três Lagoas. A estatística deste ano passa por atualização no momento.

São estudantes com deficiências auditiva, visual, física, intelectual, e também com transtornos do espectro autista e de déficit de atenção, que precisam de atendimento especializado. Para isso, o IFMS possui, nos dez campi, o Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (Napne)

De natureza consultiva e executiva, os Napne são subordinados à Pró-Reitoria de Extensão (Proex) e contam com uma equipe interdisciplinar e voluntários da comunidade escolar.

O Núcleo tem a responsabilidade de definir normas de inclusão a serem praticadas na instituição, promover a cultura de convivência e respeito à diferença, e buscar a superação de obstáculos arquitetônicos e atitudinais.

Entre suas competências estão propor políticas de inclusão e prestar atendimento aos estudantes com necessidades educacionais específicas, conforme o Regulamento do Napne.

Protagonismo

Elivelton Moreira, 18, é pessoa com deficiência visual e cursa o técnico integrado em Informática no Campus Aquidauana. A dificuldade inicial em Matemática e outras disciplinas da área de Exatas, diante da impossibilidade de fazer cálculos em Braille, o conduziu à primeira experiência em pesquisa.

O estudante participou de um projeto voltado à utilização e potencialidades do Multiplano, instrumento desenvolvido a partir do conceito do desenho universal para o ensino da Matemática e Estatística, junto ao professor Jeferson Arruda. 

Elivelton também foi bolsista de iniciação científica, no ciclo 2022-23, participando do projeto intitulado “Desenvolvimento de modelos didáticos táteis tridimensionais do Sistema ABO e Sistema Rh da herança sanguínea (Versão 2.0)”, orientado pela docente Mariana Aparecida Soares. 

Atualmente, o jovem colabora com o portal 'BocaWeb', de acesso a objetos digitais em audiodescrição, que consiste na conexão de três elementos: imagem estática, texto descritivo da imagem e arquivo de áudio com a descrição da imagem. A iniciativa é resultado da tese de doutorado em Educação do professor do Campus Dourados, Ricardo Augusto Nascimento. 

“Participar de projetos de pesquisa é uma experiência importante, pois permite ter um contato mais próximo junto a alguns professores, e ajuda a compreender o processo como um todo, desde a construção do planejamento até a apresentação dos resultados obtidos”, ressalta Elivelton.

Outra estudante atendida pelo Napne é Vitória Silva, 23, pessoa com autismo que cursa o técnico integrado em Informática no Campus Três Lagoas.

Além de realizar as atividades estudantis, a jovem está no segundo mandato como membro titular do Conselho Superior (Cosup), o órgão colegiado máximo do IFMS, destacando-se por sua contribuição para o aprimoramento do processo educacional e zelo pela correta execução das políticas da instituição. 

Mesmo com as dificuldades inerentes ao processo educacional, Vitória avalia o atendimento recebido no IFMS.

“Talvez o momento mais difícil tenha sido durante a pandemia, por causa das aulas remotas. Mesmo assim, desde que ingressei no Instituto Federal, sempre fui tratada com muita atenção, carinho e afeto”, relata.

Avanços 

O atendimento prestado pelo Napne nos campi do IFMS leva em consideração as necessidades específicas educacionais dos estudantes.

“Quando o estudante chega, nós elaboramos um portfólio, composto por duas anamneses, uma com a família e outra com o próprio discente, e ainda fazemos um trabalho de observação em sala de aula e nos demais espaços escolares, para verificar se as informações prestadas são convergentes, gerando um relatório”, explica o coordenador do Napne do Campus Três Lagoas, onde Vitória é atendida, André Nakamura.

“Como resultado, cada estudante recebe um plano de ensino individualizado, sendo as informações encaminhadas para os professores no início de cada semestre”, complementa. 

No Campus Ponta Porã, onde Felipe e Mateus concluíram recentemente seus cursos, a coordenação do Napne é de responsabilidade da intérprete de Libras da unidade, Tânia Márcia Fujii.

“Aqui, assim como nos demais campi, possuímos profissionais especializados em educação especial, como psicopedagogos e assistentes educacionais inclusivos. A esse tipo de atendimento ofertado, acrescenta-se a visibilidade e a importância da acessibilidade linguística, pelos intérpretes de Libras, que ocorreu durante a pandemia e tem ganhado cada vez mais evidência”, pontua.

Outro aspecto a ser destacado foi a mudança na forma como são escolhidas as coordenações do Napne em cada campus, com a implementação de Função Gratificada (FG) para os coordenadores, atividade antes exercida de forma voluntária por servidores que apresentavam afinidade com a temática.

"Essa medida trouxe profissionalismo e comprometimento ainda maiores para as atividades de coordenação, garantindo uma abordagem mais especializada e focada nas necessidades dos estudantes”, comenta a coordenadora de Inclusão e Diversidade do IFMS, Suliane de Barros.

Desafios

Tão importante quanto celebrar os avanços da inclusão educacional é observar os desafios futuros.

Quando o estudante ingressa no IFMS por meio de ação afirmativa, as necessidades educacionais logo são identificadas. Porém, nem sempre a entrada é por essa porta. E, muitas vezes, a condição não é informada à instituição, seja por falta de conhecimento ou por receio de preconceito.

“Se o estudante não informa a necessidade específica no ato da matrícula, dificulta o nosso trabalho na oferta dos suportes, visto que cada um possui singularidades que deverão ser observadas e atendidas”, destaca Tânia.

Porém, identificar o tipo de necessidade educacional não basta. “Conhecer esse estudante é um grande desafio. Precisamos saber como ele aprende, de que maneira ele pode se desenvolver melhor, como ele se relaciona com os colegas, porque tudo isso influencia na aprendizagem”, ressalta André.

E embora os profissionais contratados sejam de suma importância para um processo educacional inclusivo, a maneira como é feita essa contratação, por meio de uma empresa que presta serviço à instituição, ainda não é a ideal.

O IFMS - assim como as demais instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica - não possui mecanismos legais para fazer contratação direta, como ocorre no caso dos professores substitutos, por exemplo.

“Um dos principais obstáculos é a dificuldade em encontrar profissionais disponíveis para prestar esses serviços, uma vez que as empresas terceirizadas muitas vezes oferecem remuneração inferior aos profissionais qualificados. Esse desequilíbrio salarial pode desencorajar potenciais candidatos e comprometer a qualidade do atendimento. O que interfere também na retenção de profissionais qualificados e valorização do seu trabalho”, explica Suliane. 

A coordenadora de Inclusão e Diversidade complementa que a morosidade na finalização das contratações e a efetiva prestação dos serviços por parte dos profissionais terceirizados são pontos que demandam atenção e aprimoramento contínuo. “Enquanto celebramos os progressos alcançados na promoção da educação inclusiva no IFMS, é essencial reconhecermos que ainda há um longo caminho a percorrer”, finaliza.

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