Houve um tempo na Grécia antiga que a democracia era exercida diretamente pelo povo. A ideia de democracia teve aí sua origem e desenvolveu-se na história humana. Agregado em grupos e por necessidade, o ser humano então passou a criar mecanismo de controle social, e foi com a criação do Estado moderno, que modos de participação popular surgiram no destino da nação e para o interesse do bem comum. Aristóteles já dizia que “O homem só ou é um bruto ou um deus”. Ou seja, a reunião em sociedade é da natureza humana e o instinto social inerente a convivência das pessoas.
A democracia se desenvolveu e criou raízes fundamentais em todo mundo. O povo, em tese, é onde se concentra o poder, e aqui delimita o destino da sociedade e isso, representado pelos representantes eleitos em eleições periódicas.
O interesse do bem comum, defesa do patrimônio público, zelo e probidade na administração pública, seriam, por conseguinte, os reais valores dos representantes do povo. O senso comum há muito tempo desconfia que existe algo de errado nesse quadro apresentado sobre democracia, povo, seus representantes e o interesse público.
A dúvida se torna mais latente diante das noticiais diárias de que políticos representantes do povo estão envolvidos em crimes de corrupção e desvio de dinheiro público para interesses pessoais. A democracia, a eleição e a ideia central do estatuto democrático estaria em crise, já que um vazio e desilusão se abatem no sentimento das pessoas.
Enganados pelos seus representantes, o povo fica descrente na representatividade popular, nos políticos e na forma apresentada pelo sistema democrático.
Neste panorama apresentado e diante das mazelas políticas decorrentes de eleições duvidosas e políticos eleitos com dinheiro sujo, irrigadas com dinheiro da corrupção, ressurge a ideia de Poder Invisível já descrito pelo cientista político Norberto Nobbio.
O Poder Invisível ou “Estado Duplo”, seria outras formas de poder existentes na sociedade que age de forma oculta, mas que seria o verdadeiro poder que dirige e orienta os destinos da nação. Os representantes do povo (políticos eleitos), na sua grande maioria, agiriam a mando deste Poder Invisível que é verdadeiramente quem manipula os sistemas jurídicos, e controle social nos vários setores da administração, pública por interesses isolados a grupos econômicos e ideológicos, bem distante do interesse do povo, da massa de pessoas na sociedade.
No caso do Brasil, é possível verificar situações em que o sistema representativo eleitoral tem fortes indícios de fraude ao regime democrático e engodo ao povo. Partidos e candidatos eleitos são acusados de usarem dinheiro oriundo de corrupção para financiar candidaturas, inclusive com o chamado “caixa 2”, que é dinheiro não declarado, e mesmo os recursos declarados – na verdade – seriam recursos ilegais.
Os eleitos são fantasmas de um Poder outro que não o instituído pelo Estado. Representam não o povo, mas este Poder Invisível, e neste se sustenta e defende seus interesses, como é o caso recente da empreiteira Odebrecht já de conhecimento de todos.
Ano que vem tem eleições e deve seguir o padrão anterior dos interesses obscuros de grupos econômicos, que persistem no interesse leviano de se apropriar dos cofres públicos. O Poder Invisível estará agindo nas sombras, disfarçados e ocultos, mas são os que mandam de verdade na democracia fragilizada.
Valmir Moura Fé, Delegado de Polícia
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