O tarifaço imposto pelo presidente norte-americano ao Brasil entrou em vigor nesta quarta-feira, 06 de agosto. Embora o adiamento da sanção, inicialmente previsto para 1º de agosto, tenha dado mais alguns dias de respiro aos exportadores de Mato Grosso do Sul, a medida vai afetar diretamente produtos como carne bovina in natura, sebo bovino, carnes salgadas, carnes desossadas, óleos de origem animal e filés de tilápia.
No Estado, o impacto negativo da supertaxa recaiu sobre a carne bovina, principal produto sul-mato-grossense exportado ao mercado americano. O item ficou de fora da lista de isenções e segue sujeito à alíquota de 50%.
Sozinha, a carne representa 45,2% das exportações feitas pelo Estado aos Estados Unidos. Além dela, outros produtos com peso na pauta exportadora também foram atingidos pela nova tarifa. É o caso do sebo bovino, responsável por 9,4% das vendas ao país, e das carnes salgadas (2,5%).
Também foram afetados os filés de tilápia, os óleos de origem animal e as carnes desossadas, cada um com participação superior a 1% no total exportado neste ano.
Por outro lado, dois itens relevantes para a economia sul-mato-grossense ficaram de fora da lista: a celulose e o ferrogusa, que juntos representam mais de 36% de tudo que o Estado vendeu aos norte-americanos em 2025. Os dados são da Fiems (Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul).
De janeiro a junho deste ano, Mato Grosso do Sul exportou US$ 315 milhões para os Estados Unidos. Desse total, US$ 74,8 milhões correspondem às pastas químicas de madeira, utilizadas na fabricação de papel e produzidas pelas fábricas de celulose da Suzano, Eldorado e Arauco, já instaladas ou em processo de instalação no Estado. O volume exportado foi de 154.950 toneladas, o que representa 23,7% de tudo o que MS vendeu aos norte-americanos no primeiro semestre.
Já o ferro fundido bruto, ou ferrogusa, teve exportações de US$ 40,5 milhões no semestre, o equivalente a 12,9% do total enviado para os EUA pelo Estado.
Novos mercados
A entrada em vigor da tarifa sobre produtos brasileiros levou o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), a anunciar uma missão internacional em busca de novos mercados na Ásia.
A primeira parada da comitiva será Mumbai, na Índia, onde Riedel deve se reunir com representantes de empresas como a ACG, do setor farmacêutico, a UPL Fertilizantes e grandes conglomerados industriais como o Tata Group, Aditya Birla (especializado em alimentos) e Mahindra, fabricante de máquinas agrícolas. Também está prevista uma audiência com o governador do Estado de Maharashtra.
No Japão, a delegação sul-mato-grossense participará de atividades relacionadas à Expo Osaka 2025 e terá encontros com importantes representantes da indústria japonesa, entre eles a Keidanren (Confederação Nacional da Indústria) e os grupos Sumitomo e Mitsui, que já possuem histórico de investimentos no agronegócio brasileiro.
A última etapa da missão será em Singapura. Lá, Riedel se encontrará com o ministro do Comércio, Alvin Tan, e visitará instituições como a RGE, holding que controla a Bracell (empresa com operações em Mato Grosso do Sul), além da MTAS (Associação dos Importadores de Proteína Animal) e os fundos soberanos Temasek e GIC. Também estão previstas reuniões com representantes da Enterprise Singapore, agência oficial de promoção de exportações do país.
Riedel integra a comitiva brasileira ao lado de representantes dos governos do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Entre eles estão Fernanda Curdi, secretária de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços do Rio de Janeiro, e membros da Codemge (Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais).
A delegação conta ainda com cerca de 80 empresários brasileiros interessados em ampliar negócios com o setor produtivo indiano e outros mercados asiáticos. Entre os participantes estão executivos de grandes empresas como Márcio Monteiro (vice-presidente da Embraer Defesa e Segurança), Mário Raulino (diretor da Vale na Ásia), Rafael Tello (vice-presidente de Sustentabilidade da Ambipar), César Chicayban (CEO da XP Private Banking) e Roberto Rodrigues (embaixador da FAO para o Cooperativismo).
Rússia
Mato Grosso do Sul também pode ser diretamente impactado por uma nova sanção econômica em discussão no Congresso dos Estados Unidos. Parlamentares americanos querem aprovar, ainda neste ano, uma lei que pune países que mantêm relações comerciais com a Rússia, o que inclui a compra de fertilizantes, insumo essencial para o agronegócio brasileiro, altamente dependente da importação.
A proposta legislativa foi apresentada durante a missão oficial do Senado em Washington, liderada pelo senador Nelsinho Trad (PSD), e recebeu apoio de parlamentares dos dois principais partidos americanos, o que aumenta as chances de aprovação. A senadora Tereza Cristina (PP), que também integrou o grupo, afirmou que o tema “é sensível” e será incluído no relatório da missão. “Eles acham que quem compra da Rússia está financiando a guerra”, relatou durante coletiva.
A medida atinge diretamente o agro sul-mato-grossense, já que, segundo dados do Ministério da Economia, 23% dos fertilizantes usados no Brasil em 2023 vieram da Rússia. O setor teme que, assim como no caso do chamado "tarifaço", o Brasil acabe sofrendo retaliações com impacto direto na produção agrícola.
Diante do risco, o governador Eduardo Riedel voltou a defender a retomada da UFN3 (Unidade de Fertilizantes Nitrogenados 3) como forma de reduzir a dependência externa. A planta, localizada em Três Lagoas, está com as obras paradas desde 2014, e é considerada estratégica para aumentar a produção nacional. “A grande ação é produzir mais aqui. A UFN3 pode elevar a produção de nitrogenados de 15% para 30% no país”, afirmou.
O governador também revelou que a empresa russa Acron, que havia demonstrado interesse pela unidade em 2022, procurou novamente o governo para retomar o diálogo. No entanto, a planta já foi incluída no plano de investimentos da Petrobras, que prevê aporte de R$ 5 bilhões e início das operações em 2028.
Projetada para ser a maior fábrica de fertilizantes nitrogenados da América Latina, a UFN3 terá capacidade de produzir 3,6 mil toneladas de ureia e 2,2 mil toneladas de amônia por dia, utilizando 2,3 milhões de metros cúbicos de gás natural diariamente.
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Sozinha, a carne bovina representa 45,2% das exportações feitas pelo Estado aos Estados Unidos. (Foto: Divulgação/Semadesc)


