Ontem saímos para levar as crianças a um passeio. Um programa simples, quase clichê de férias escolares: aproveitar um momento de luz. Mas foi justamente ela que faltou.
Estávamos na Praça Generoso Ponce, no coração da cidade, em plena Avenida General Rondon. Um cartão-postal… de outro tempo. Porque o que vimos foi só sombra. Todos os postes da praça estavam apagados. A única iluminação vinha da rua, como se dissesse: “olhem pra cá, mas só da calçada pra fora”.
As crianças corriam no escuro, animadas como se não percebessem. E talvez seja melhor assim. Porque quem cresce em um lugar onde não há praça iluminada, nem espaço limpo pra brincar, acaba se acostumando a viver à margem da luz. Ainda bem que elas riem. Ainda bem que elas não veem tudo.
Basta subir um pouco e a cidade muda de tom. Na parte alta, o que se vê são esquinas tomadas por entulho, lixo acumulado, restos de um serviço que talvez exista, só não chega até lá.
E antes que alguém diga que só sabemos reclamar, vale lembrar: a prefeitura diz que tem canal rápido para troca de lâmpadas em até 48 horas. Tem campanha de limpeza urbana. Tem até slogan com rima: Cidade limpa, povo feliz.
Talvez esteja tudo mesmo acontecendo. Mas, se está, a população não está vendo. E quando o serviço público precisa ser adivinhado, alguma coisa está muito errada.
Também vale refletir sobre o conteúdo musical que acompanha esses eventos. A trilha sonora era alta, vibrante, mas pesada demais para o público presente. Eram, em sua maioria, crianças. E por mais que modismos musicais existam, ainda existe bom senso. Há músicas e músicas — e, para momentos voltados à infância, isso precisa ser levado em consideração.
No mais, não pedimos muito.
Que as luzes das praças funcionem.
Que a limpeza chegue também onde o asfalto não brilha.
Que haja segurança onde as famílias se reúnem.
Que a infância não dependa de uma luz itinerante para sentir alegria.
A cidade anda apagada. E o mais perigoso é que isso virou normal. A escuridão virou paisagem. E ninguém mais nota que a luz se foi.
Seguimos às escuras.
Não por falta de energia, mas por excesso de indiferença.
A luz que falta não é elétrica. É pública.
E talvez o maior apagão nem esteja nos postes,
mas na consciência de quem deveria acendê-los.
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