Menu
domingo, 14 de dezembro de 2025
Regulariza Corumbá - Dezembro
Andorinha - WhatsApp
COLUNA

Entrelinhas

Anne Andrea Fonseca de Andrade

Quando a luz não vem do poste

Na praça apagada, só a alegria infantil iluminou a noite que a cidade esqueceu de clarear

16 julho 2025 - 14h32

Ontem saímos para levar as crianças a um passeio. Um programa simples, quase clichê de férias escolares: aproveitar um momento de luz. Mas foi justamente ela que faltou.

Estávamos na Praça Generoso Ponce, no coração da cidade, em plena Avenida General Rondon. Um cartão-postal… de outro tempo. Porque o que vimos foi só sombra. Todos os postes da praça estavam apagados. A única iluminação vinha da rua, como se dissesse: “olhem pra cá, mas só da calçada pra fora”.

As crianças corriam no escuro, animadas como se não percebessem. E talvez seja melhor assim. Porque quem cresce em um lugar onde não há praça iluminada, nem espaço limpo pra brincar, acaba se acostumando a viver à margem da luz. Ainda bem que elas riem. Ainda bem que elas não veem tudo.

Basta subir um pouco e a cidade muda de tom. Na parte alta, o que se vê são esquinas tomadas por entulho, lixo acumulado, restos de um serviço que talvez exista, só não chega até lá.

E antes que alguém diga que só sabemos reclamar, vale lembrar: a prefeitura diz que tem canal rápido para troca de lâmpadas em até 48 horas. Tem campanha de limpeza urbana. Tem até slogan com rima: Cidade limpa, povo feliz.

Talvez esteja tudo mesmo acontecendo. Mas, se está, a população não está vendo. E quando o serviço público precisa ser adivinhado, alguma coisa está muito errada.

Também vale refletir sobre o conteúdo musical que acompanha esses eventos. A trilha sonora era alta, vibrante, mas pesada demais para o público presente. Eram, em sua maioria, crianças. E por mais que modismos musicais existam, ainda existe bom senso. Há músicas e músicas — e, para momentos voltados à infância, isso precisa ser levado em consideração.

No mais, não pedimos muito.
Que as luzes das praças funcionem.
Que a limpeza chegue também onde o asfalto não brilha.
Que haja segurança onde as famílias se reúnem.
Que a infância não dependa de uma luz itinerante para sentir alegria.

A cidade anda apagada. E o mais perigoso é que isso virou normal. A escuridão virou paisagem. E ninguém mais nota que a luz se foi.

Seguimos às escuras.
Não por falta de energia, mas por excesso de indiferença.
A luz que falta não é elétrica. É pública.
E talvez o maior apagão nem esteja nos postes,
mas na consciência de quem deveria acendê-los.

Receba a coluna Entrelinhas no seu Whatsapp. Clique aqui para seguir o Canal do Capital do Pantanal.

 

Deixe seu Comentário

Leia Também

Entre o silêncio imposto e a palavra lançada
Quando o Processo é a Nova Pena
Natal invisível
A Estação Esquecida na Fronteira
Quando o tempo anda e a ponte fica