Política

Audiência Pública: Especialistas defendem que ferrovia tenha administração pública

21 OUT 2025 • POR Gesiane S. Lourenço • 14h50
Audiência Pública busca formalizar propostas para serem apresentadas ao governo federal. - Foto: Capital do Pantanal

A manhã desta terça-feira (21) foi de intenso debate no plenário da Câmara Municipal de Corumbá devido a audiência pública que discutiu a reativação da ferrovia Malha Oeste, que liga Mairinque (SP) e Corumbá. Proposta pelo vereador Roberto Façanha, o encontro reuniu diversas autoridades políticas, locais e da cidade de Bauru (SP), além de integrantes da classe trabalhadora,o Sindicato dos ferroviários e especialistas no setor de transportes.

Em sua fala de abertura, Façanha destacou que a Rumo, atual empresa dona da concessão, é exemplo de descompromisso. De acordo com o vereador, a empresa foi multada por pelo menos 74 vezes por não cuidar da sua faixa de concessão.

Roberto Façanha, como proponente do tema, foi quem presidiu a audiência. Foto: Capital do Pantanal

"A estrutura está depreciada, os trens trafegam abaixo do limite de velocidade e de carga permitidos. Com a negativa do TCU (Tribunal de Contas da União) para uma nova concessão, nós temos a nossa melhor oportunidade para fortalecer a ferrovia como uma alternativa sustentável ao atual modelo rodoviário de transporte de cargas", disse. 

Chamado com urgência à Capital para tratar de recursos financeiros às contas públicas do município, o prefeito Dr. Gabriel Alves enviou como seu representante o assessor e ex-vereador, Marcos de Souza, que além de destacar a relevância econômica e estratégica da ferrovia para Corumbá e Mato Grosso do Sul, também deu relato afetivo da época de quando ainda criança, viajava de trem para se deslocar à Campo Grande.  

"Sabemos da importância da ferrovia para melhorar o escoamento das nossas produções, mas quero colocar um pouco de sentimento nessa audiência. São muitas as memórias de quando a ferrovia era o principal meio de transporte dessa região, e com o avanço da rodovia, os trilhos foram esquecidos. Precisamos reativar esse modal tão importante não somente para nosso município, mas estado e país", relata.

O corpo técnico convidado para explanar sobre o tema enviou vídeos onde defenderam a proposta de que a administração da ferrovia deve ser pública. Para o ferroviário Afonso Carneiro Filho, uma empresa privada sempre irá priorizar seus ganhos financeiros, sem levar em consideração as necessidades da comunidade onde os trilhos estão inseridos. 

"A autoridade sobre a ferrovia deve ser pública e não privada. Minha sugestão é que um grupo com integrantes da administração pública seja formado para gerir a ferrovia. É importante que estejam presentes o DNIT, a ANTT e o Conselho dos Usuários, cada um deles irá atuar dentro das suas competências pelo bem econômico, logístico e da população envolvida", explica.

Audiência reuniu autoridades políticas locais, de Bauru (SP) e de Puerto Suárez (BO). Foto: Capital do Pantanal 

Eduardo Riedel, governador do estado, também se fez presente por meio de vídeo, ele defendeu que a ferrovia é um modal extremamente estratégico para Mato Grosso do Sul. Para o governador, o trecho da ferrovia em MS, entre Três Lagoas e Corumbá, é o que mais desperta o interesse das empresas. Duas delas, a Granel Química e a LHG Mineração, já apresentaram propostas para assumirem a reforma dos trechos entre o Posto Esdras, na fronteira com a Bolívia, até a região de Maria Coelho, na BR 262, porém, as propostas nunca receberam resposta da Rumo. "A reativação da ferrovia vai de encontro com tudo aquilo que estamos trabalhando em nossa gestão, para tornar o Mato Grosso do Sul um estado verde, sustentável e economicamente forte," defendeu.

O segundo consultor técnico a abordar o assunto na audiência, José Augusto Valente, ex-ministro dos transportes no primeiro governo Lula, também defendeu que a ferrovia tenha administração pública. 

"Na minha opinião, a Infra S.A. deveria ser a responsável pela gestão da ferrovia. Ela já opera outros trechos no país e poderia perfeitamente incluir a Malha Oeste na sua administração. Eles terão a capacidade de ouvir a comunidade para montar um modelo que atenda os interesses da população, diferente da empresa privada que sempre irá trabalhar pelos interesses particulares", disse. 

Representando o legislativo da cidade de Bauru (SP), a vereadora Estela Almagro, foi enfática em dizer que ninguém duvida que a ferrovia é o modal mais rápido, barato e seguro que um país pode oferecer. Para ela, a questão não envolve apenas as cidades por onde a Malha Oeste passa, se trata de colocar o Brasil nos trilhos.

Estela Almagro, vereadora de Bauru (SP) participou ativamente da discussão. Foto: Capital Pantanal  

"Estamos em uma rodovia sem rumo, Bauru virou cemitério de trilhos e vagões, servindo apenas a criminalidade. Precisamos articular com todas as cidades integrantes da Malha Oeste para que as propostas sejam efetivas e saiam do papel".

Estela é presidenta da comissão que trata sobre a reativação da ferrovia em Bauru (SP), junto com ela, veio Elton Gove, representante da prefeita municipal Suéllen Rosin. Ainda neste mês, a Câmara Municipal de Bauru realiza mais uma audiência pública para tratar o tema e deixaram o convite para que o legislativo corumbaense integre a discussão. 

As propostas elaboradas em conjunto serão apresentadas ao Governo Federal. 

Receba as notícias no seu Whatsapp. Clique aqui para seguir o Canal do Capital do Pantanal.