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Rio Paraguai dá sinais de recuperação após dois anos de seca extrema

24 SET 2022 • POR Rodolfo César do Correio do Estado • 10h48
Nível do Rio Paraguai este ano ainda não é ideal, mas apresenta melhora em relação a 2020 e 2021. - Arquivo

Regulador da “saúde” aquática do Pantanal, o Rio Paraguai sinalizou que, neste ano, conseguiu dar sinais de mais vigor e a estiagem severa foi regulada com níveis maiores de água do que foi registrado nos últimos três anos.   

A ponderação é que esses números ainda não se aproximaram dos anos em que houve cheias consideráveis, como ocorreu em 2017 e 2018.   Além disso, neste mês, o nível voltou a ficar abaixo de 1 m. A marca de 1,50 m representa situação crítica para a navegação comercial. 

Essa condição é acompanhada de perto por pesquisadores e outros órgãos a partir de Ladário, porque esse trecho é marcado por maior movimentação comercial, com o transporte de minério, e ainda repercute em negociações comerciais internacionais com a Bolívia. 

Sem ainda ter cheia considerável, ainda há vários monitoramentos em andamento para averiguar o nível que o rio alcançará neste ano.   A partir de setembro, conforme histórico de 2017 para cá, o nível começa a recuar com maior intensidade até atingir marcas mais baixas em novembro e início de dezembro.   

Conforme os dados da Marinha do Brasil, a partir da medição de régua no Comando do 6º Distrito Naval, em Ladário, o Rio Paraguai caminha para recuar mais drasticamente a partir desta semana. Até 21 de setembro, o nível ainda estava em 1 m, porém ele passou a cair e nesta sexta-feira atingiu 94 centímetros. O nível mais baixo registrado em 2022 foi de 75 centímetros, em 1º de janeiro. A máxima alcançada em 2022 conseguiu ser a melhor dos últimos dois anos: chegou a 2,64 m há pouco mais de dois meses.   

Neste ano, conforme os dados da Marinha, o Rio Paraguai sinalizou que conseguiu se recuperar um pouco da forte estiagem de 2020 e 2021 em razão das chuvas que foram registradas principalmente no estado de Mato Grosso, na região de Cáceres. 

“Foram observados acumulados de chuva de aproximadamente 8 mm na bacia do Rio Paraguai, com destaque na sub-bacia do Rio Aquidauana. Em Cáceres, o rio apresenta uma tendência de recuperação. Nas demais localidades, o Rio Paraguai apresenta níveis compatíveis com aqueles considerados normais para este período do ano. A tendência dos rios é de continuidade do processo de vazante nas próximas semanas”, identificou relatório do Sistema de Alerta Hidrológico (SAH) da bacia do Rio Paraguai, divulgado nesta sexta-feira (23). 

Esse documento, assinado por Marcus Suassuna Santos, Marcelo Parente Henriques e Artur José Soares Matos, pesquisadores em geociências e hidrologia do SAH, acrescentou que há sinais na previsão do tempo que a tendência de seca mais forte pode ter uma trégua e ainda em setembro mais chuva pode ocorrer.   

No caso de essa previsão se consolidar, a situação do nível do Rio Paraguai pode se manter equilibrada em termos de redução drástica. “Para as próximas duas semanas, são previstos acumulados de chuva em torno de 50 mm na bacia, apresentando uma maior incidência na última semana do mês de setembro”, identificou o boletim dos pesquisadores. 

O desenvolvimento do cenário da chuva e o comportamento do nível do Rio Paraguai estão sendo acompanhados neste ano para haver comparação com relação ao período em que ocorre a cheia. 

Estudo das águas 

O MapBiomas identificou que o “reino das águas” está com seu ciclo muito alterado e a tradicional abundância de água deu lugar a outro cenário. Neste ano, no fim de agosto, a rede colaborativa de pesquisadores diagnosticou que os picos de cheias estão sendo alterados no período de 30 anos de análise.   

Enquanto em 1988, quando houve um grande pico de cheia, o bioma ficou com água transbordando pelo período de seis meses, esse processo não está se repetindo. Em 2018, quando houve outro pico de cheia – entre 13 e 16 de junho, o nível na régua em Ladário alcançou 5,35 m –, esse ciclo durou apenas dois meses. 

O que os pesquisadores ainda não sabem pontuar é se esse encurtamento do tempo de cheia é algo pontual ou se essa condição pode perdurar.  Também ainda serão avaliados os impactos que isso causa para a fauna, a flora e o sistema produtivo que existe no Pantanal. Justamente pelas respostas que ainda não se têm, o atual cenário de movimento da chuva e o nível do rio estão em análise. 

“As alterações causadas pela ação do homem entre 1985 e 2021 foram muito intensas, elas correspondem a um terço [33%] de toda a área antropizada do País. Nesse período, o Brasil passou de 76% de cobertura da terra de vegetação nativa [florestas, savanas e outras formações não florestais] para 66%”, informou o MapBiomas, no fim de agosto deste ano. 

Estudos que balizam essas pesquisas apontam que o que ocorre na Amazônia, por exemplo, gera repercussão no Pantanal, principalmente em se tratando de volume de chuva, que vai determinar a cheia ou não.   Nesse ponto, a floresta está ainda sendo muito atingida por conta das alterações no seu desenho de cobertura da vegetação.   

“As causas que vêm sendo comentadas pelo meio científico [sobre seca mais severa afetando o Pantanal] envolvem relação com as alterações antrópicas na Amazônia, embora essa relação esteja sendo revista por alguns cientistas. Variações climáticas naturais são também uma possibilidade, haja vista que já ocorreu estiagem mais severa e longa de 1962 a 1973”, comentou o pesquisador da Embrapa Pantanal Carlos Padovani, em avaliação feita neste ano. 

A situação atual do Rio Paraguai e da bacia está sendo monitorada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), pelo Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS), pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela Embrapa Pantanal.