Geral

Indígenas deixam fazenda após conflito que teve morto e feridos

Policiais permanecem na fazenda, mas clima é tranquilo neste sábado

25 JUN 2022 • POR Renata Portela, Mídiamax • 09h50

Após conflitos que acabaram com indígenas e policiais feridos, além da morte do indígena Vito Fernandes, de 42 anos, o clima amanheceu tranquilo neste sábado (25) na Fazenda Borda da Mata em Amambai, a 702,8 km de Corumbá. A informação é de que os indígenas deixaram o local ainda na sexta-feira (24). 

De acordo com informações apuradas pelo Midiamax, as equipes da Polícia Militar continuam na área da propriedade rural, mas o clima é tranquilo, sem registro de novos confrontos. Segundo o secretário da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), Antônio Carlos Videira, os indígenas deixaram a fazenda ainda na sexta. 

Já neste sábado, Perícia e Polícia Civil de Amambai trabalham na fazenda, apurando se houve danos ou mesmo furtos e roubos no local. Também de acordo com o secretário, será feita perícia na aeronave da Casa Militar, que foi atingida por dois disparos de arma de fogo enquanto sobrevoava a região. 

O helicóptero retornou para Campo Grande na noite de sexta-feira e pousou no Aeroporto de Santa Maria, com os três policiais militares do Choque que ficaram feridos. 

Feridos em confronto 

Além da morte de Vito Fernandes e três policiais baleados, dois adolescentes indígenas, sendo um menino de 13 anos e uma jovem de 14, foram atingidos por disparos de arma de fogo na região do abdômen e tiveram exposição de vísceras. Ao todo são 11 vítimas, entre eles indígenas e policiais militares. 

A região é chamada de Guapoy pelos indígenas, que afirmam que fizeram uma retomada da área. Logo após a primeira invasão, policiais do Choque foram ao local e o grupo saiu. No entanto, segundo a gerente da fazenda, eles retornaram momentos depois armados, atirando. 

Novamente os policiais foram acionados, quando ocorreu o primeiro conflito. O que é relatado pelas Forças de Segurança é que há um conflito interno na aldeia, que a princípio é pacífica.  Os dois jovens indígenas foram levados conscientes para atendimento no Hospital Regional de Ponta Porã, de acordo com o médico ortopedista Edinaldo Luiz de Melo Bandeira, que também é prefeito de Amambai. 

Vito morreu atingido por três disparos no tórax e quadril. Além dos adolescentes, uma mulher indígena, foi atendida com ferimento no joelho, causado por arma de fogo. Ela foi atendida e liberada. 

Outra mulher adulta, indígena, foi atendida com um ferimento de corte contuso na cabeça e perfuração de projétil de arma de fogo, que transfixou, na região da coxa. Ela encontra-se internada no Hospital Regional de Ponta Porã. 

Um jovem adulto, também indígena, foi atendido com fratura em uma das mãos, também causado por tiro. Ele também foi atendido e liberado. Outro homem adulto, indígena, foi medicado devido a um ferimento de arma de fogo na altura do bíceps e já foi atendido e liberado. 

Outro adulto homem, indígena, sofreu fratura exposta de fêmur, ferimento causado por arma de fogo. Consciente e orientado, foi levado ao Hospital Regional de Ponta Porã. 

Policiais socorridos 

Três policiais militares foram feridos por disparos de arma de fogo. Todos foram atendidos no Hospital Regional da cidade e nenhum deles corre risco de morte. 

Segundo o hospital, um dos policiais foi atingido no quadril e coxa. Outro policial sofreu ferimento no pé e o terceiro na perna. Após serem atendidos, os três foram trazidos de helicóptero para Campo Grande. 

Situação está tranquila após conflitos 

Inicialmente, aproximadamente 100 policiais estiveram no local, entre eles a Polícia Federal. De acordo com o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), após a ocupação, indígenas dos povos Guarani Kaiowá foram atacados e expulsos, sem ordem judicial, por fazendeiros e policiais militares do território, chamado de Guapoy pelos índios. 

Em coletiva, o secretário Videira disse que entre os indígenas também há estrangeiros, possivelmente paraguaios. Isso, porque eles vêm ao país vizinhos tentar cooptar indígenas como mão de obra barata para a colheita de maconha. 

A suspeita é de que sejam estes os homens armados que acabaram entrando em confronto com os policiais do Batalhão de Choque nesta sexta. A reserva de Amambai é a segunda maior do estado de Mato Grosso do Sul em termos populacionais, com aproximadamente 10 mil indígenas. 

Para os Guarani Kaiowá, Guapoy é parte de um território tradicional que lhes foi roubado – quando houve a subtração de parte da reserva de Amambai. Os indígenas clamam atenção, exigem proteção às suas vidas e seus direitos. 

O MPF (Ministério Público Federal) informou ainda na sexta que acompanha o caso. 

 

* Texto com trechos editados pela redação do Capital do Pantanal