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Pesquisadora: Vacina não é alvará de soltura

20 DEZ 2020 • POR G1 • 10h04

As campanhas de vacinação contra o coronavírus deverão começar no Brasil em meados de janeiro e será fundamental engajar a população para conseguir o máximo de adesão. Ao mesmo tempo, é importante compreender, frisam especialistas ouvidos pela reportagem, que as pessoas imunizadas não poderão voltar à vida normal logo de cara.

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— A vacina não é um alvará de soltura nem um atestado de libertação completo — afirma a pneumologista Margareth Dalcolmo, pesquisadora da Fiocruz — Quando as pessoas perguntam se precisam continuar usando máscara e mantendo distanciamento, a resposta é “sim”.

— Comunicar isso vai exigir sensibilidade, mais do que expertise — complementa a colunista do GLOBO — As pessoas precisarão entender que o fato de elas serem vacinadas não as libera de precauções que ainda deverão durar pelos próximos dois anos.

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É que os especialistas sabem que pregar medidas fundamentais de cautela em meio à celebração natural do êxito da própria ciência pode ter efeito oposto ao que eles próprios desejam: diminuir o interesse do público-alvo em buscar o imunizante —risco potencializado num contexto em que o presidente da República questiona publicamente os benefícios da vacina.

Imunidade começa aos 60%

A vacinação é atividade crucial para debelar a pandemia. E o programa de imunização, por aspectos logísticos, vai se estender por muitos meses (ver gráfico ao lado). Por isso, será preciso continuar a monitorar os números de mortes e novos casos de coronavírus no país até que se verifique uma desaceleração de fato consistente da pandemia.

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Segundo Dalcolmo, esse estado de “imunidade de rebanho” — no qual o vírus encontra pela frente mais pessoas protegidas do que suscetíveis — deve começar a ser perceptível em algum momento após mais de 60% da população já tiver recebido a vacina. Ou seja,é essencial a vacinação em massa.

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A julgar pela quantidade de doses de vacina que o governo federal espera assegurar, ainda não é possível determinar com exatidão quando esse limiar será atingido. O mais provável é que seja no segundo semestre de 2021 — mas também pode ser em 2022.

Para Dalcolmo, o principal ponto de incerteza é o da aquisição de vacinas. Para a pesquisadora, é, sim, preocupante que o Brasil ainda não tenha assegurado doses para imunizar metade da população. Por outro lado, a partir do momento em que a vacina estiver disponível, se for usada a infraestrutura brasileira, com a expertise e a tradição do Programa Nacional de Imunizações (PNI), o processo não deverá demorar muito.

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) é uma das entidades médicas que destacam a importância do trabalho de conscientização a ser feito com o público neste momento.

— A campanha de comunicação está atrasada — afirma a pediatra Isabella Ballalai, vice presidente da SBIm. — O que se fez até agora foram promessas confusas e promoção de uma expectativa de datas para o início da campanha que não se confirmaram.

Como os parâmetros para medir as vacinas em teste contra a Covid-19 são mais relacionados à severidade da doença do que à sua transmissibilidade, também ainda não está claro o quanto os imunizantes poderão proteger contra a infecção em si.