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Curso de pintor imobiliário do Senai abre portas da construção civil para haitianos

25 JUL 2018 • POR Kamilla Marques • 09h44
Essa é a terceira turma de haitianos instalados na Capital formada pelo Senai - Divulgação

Devastados por um terremoto que, em 2010, agravou ainda mais os problemas socioeconômicos enfrentados no Haiti, imigrantes do país que enxergaram em Campo Grande (MS) uma oportunidade de recomeço agora estão mais próximos de conquistar o tão sonhado emprego formal depois de concluírem o curso de pintor de obras imobiliárias na Escola Senai da Construção, em parceria com a construtora Plaenge e Ministério Público do Trabalho (MPT). Na noite desta terça-feira (25/07), 20 haitianos participaram da cerimônia de entrega simbólica dos certificados de conclusão do curso, em um evento que reuniu no auditório da instituição de ensino amigos e familiares dos formandos.

Essa é a terceira turma de haitianos instalados na Capital formada pelo Senai que, com a qualificação profissional, passam a ter mais oportunidades de inserção no mercado de trabalho e alcançar uma remuneração melhor. “Os alunos têm afirmado que os cursos contribuíram bastante para a formação profissional e crescimento pessoal deles, porque enxergam a grande demanda por mão de obra qualificada no segmento da construção civil em Mato Grosso do Sul”, afirmou o gerente da Escola Senai da Construção, Roger Benites.

Para o gerente-regional da Plaenge, Luiz Octávio Pinho, a parceria com o Senai e o MPT é uma oportunidade para fomentar a construção civil no Estado e levar mais oportunidades para a comunidade haitiana. Após o curso, os formandos terão prioridade de incorporação ao quadro de funcionários da construtora. “Passado o boom da construção civil, surgiu uma oportunidade, juntamente com o Ministério Público do Trabalho, para começar a formar pessoas dentro das maiores demandas da empresa, por isso o primeiro curso foi de pintor imobiliário e, na sequência, temos programados outros cursos, como ceramista, montadores e eletricista para que a Plaenge, além de outras empresas, possa absorver essa mão de obra”, disse.

Formandos

Nascido em um país cuja história é marcada por governos ditatoriais, golpes de estado e uma guerra civil, depois que o terremoto atingiu o Haiti, em janeiro de 2010, Bernard Denord, 29 anos, entendeu que era o momento de tentar a sorte no Brasil, assim como fizeram milhares de haitianos. “Trabalhava como escrivão, mas as coisas, que já eram difíceis, ficaram ainda piores depois do terremoto. Em 2012 percebi que não existia muitas chances de a situação melhorar e decidi tentar a sorte no Brasil. Hoje trabalho como conferente em um atacado, mas depois dos cursos no Senai, descobri uma paixão e hoje minha vontade é fazer uma faculdade de Engenharia Civil”, contou Bernard sobre a experiência com o Senai.

Além do emprego no atacado, pequenos serviços de pintura, fruto do aprendizado na instituição, vão contribuir com a poupança para bancar a faculdade, acrescenta ele. Chamyr Jean, 35 anos, levou a esposa e o filho, de 5 anos, para prestigiar a conquista do certificado do Senai. Mas a cerimônia contou com uma presença especial, a da família que o acolheu em Campo Grande quando ele chegou do Haiti. Chamyr conheceu o sargento Firmino Garcia ainda no Haiti, quando tropas do Exército Brasileiro foram enviadas pela ONU (Organização das Nações Unidas) para auxiliar na recuperação do país após o terremoto.

Lá, Chamyr trabalhava como intérprete e, por isso, se aproximou bastante dos militares. “Falo que ele e a esposa, Roseli, são meus pais no Brasil, porque desde o dia que cheguei, 8 de dezembro de 2014, foram eles que me ajudaram e incentivaram a investir em mim e não deixar passar oportunidades. Hoje, eles estão vendo meu crescimento e o primeiro passo para ter uma profissão aqui”, comemorou Chamyr.