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Estudo aponta que Aves do Pantanal são ameaçadas pela ação humana

21 ABR 2017 • POR Gesiane Medeiros com informações da revista Ciência Pantanal • 09h02
Ave Mutum de Penacho fotografada na Fazenda Rio Negro. Foto: Paulo Robson Souza

Artigo recentemente publicado na revista Ciência Pantanal aponta que as intervenções humanas no bioma da região podem afetar a conservação de três espécies de aves importantes na dispersão de sementes e na renovação das matas da região: arancuãs, jacutingas e mutuns. Publicação da Ong WCS Brasil, organização brasileira sem fins lucrativos, fundada em 2004, com foco no Pantanal e Amazônia, mostra que em áreas de florestas densas, contínuas e conectadas do bioma, a quantidade de animais dessas espécies por área avaliada era bem maior (429 jacutingas, 150 mutuns e 1.739 arancuãs) na comparação com regiões alteradas por atividades humanas, como desmatamento e pecuária extensiva na planície pantaneira. Nestas últimas áreas, foram encontrados 18 jacutingas e 338 arancuãs. No caso dos mutuns, o número foi semelhante, o que pode ser explicado pelo surgimento de uma “savana artificial” e ao fato dessa espécie explorar tanto o solo de florestas quanto o de cerrados e campos sujos.

O levantamento foi feito na região da Nhecolândia, no município de Corumbá (MS), entre 2012 e 2013. “A redução das populações dessas aves pode desencadear sérias consequências para a interação biológica da paisagem, em longo prazo”, afirmam os autores da pesquisa, Alessandro Pacheco Nunes (UFMS), Rudi Ricardo Laps (UFMS), Walfrido Moraes Tomas (Embrapa Pantanal) e Marcelle Aiza Tomas (UFMS). A terceira edição da revista Ciência Pantanal, editada pela WCS Brasil (Wildlife Conservation Society ou Associação Conservação da Vida Silvestre, em português) está disponível em https://goo.gl/H1LpNk.  

A ave Aracuã é um das espécies ameaçadas. Foto: Rud Laps

Pesquisadores acreditam que “no Pantanal, os modelos tradicionais de pecuária com manejo sustentável das paisagens nativas promoveram poucas alterações nos padrões ecológicos, ao longo de décadas. No entanto, a ampliação da pecuária extensiva em várias regiões da planície pantaneira causa drásticas alterações no bioma. E não somente pelo desmatamento, mas também pelo raleamento de cordilheiras e substituição da vegetação nativa por pastagens cultivadas. Esse tipo de intervenção isola as manchas florestais, altera a qualidade dos habitats e simplifica paisagens complexas, afetando negativamente a biodiversidade regional”.

Estudo alerta para o risco de extinção das espécies aracuãs, jacutingas e mutuns, que desempenham importante papel no meio, atualmente, mesmo com os efeitos da ação humana, ainda é possível ver e ouvir os cracídeos desempenhando seus relevantes papéis como dispersores de sementes e integrantes da biodiversidade, porém se as intervenções humanas prosseguirem na escalada atual, provavelmente os únicos vestígios da existência dessas aves  serão aqueles eternizados nos poemas do saudoso Manoel de Barros.

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