Autoridades nacionais e internacionais estão de olho no governo brasileiro para identificar e imprimir esforços para conter as queimadas na Amazônia. O debate sobre esse assunto impacta debates ao redor do mundo, como aconteceu na COP 26, no segundo semestre do ano passado, na Escócia. Ainda assim, o número de queimadas não para de subir.
O desmatamento da floresta amazônica e o impacto das queimadas foi sentido em junho deste ano, quando foram detectados 2.562 focos de calor, o maior número para o mês desde 2007, quando 3.519 focos foram registrados. É o terceiro ano consecutivo de alta no número de focos de calor na floresta.
De acordo com os dados históricos divulgados pelo Inpe, o Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais, a tendência é que a quantidade de pontos de queimada na floresta aumente em julho e agosto. As medições são feitas desde 1998. Como se sabe, o desmatamento e as queimadas são dois dos principais fatores para intensificar a seca severa que atinge a região Amazônica e também o Cerrado.
Os dados do Inpe também mostram que nos primeiros seis meses do ano, já são 7,5 mil focos de calor registrados na floresta, um aumento de 18% em relação ao mesmo período de 2021. Além disso. a região Amazônica também sofreu com a maior área sob alerta de desmatamento em 7 anos, mesmo sem os dados dos últimos 6 dias de junho.
Em nota, o especialista em políticas públicas do WWF-Brasil Raul do Valle fez críticas ao governo federal e ao presidente Jair Bolsonaro, dizendo que o chefe do Planalto não tem feito esforços para conter o desmatamento e as queimadas das florestas brasileiras. "Com Bolsonaro correndo atrás nas pesquisas, os grileiros, os garimpeiros e todos que navegam na impunidade, sentindo que precisam correr para consolidar seus crimes, com receio de que um novo governo possa acabar com essa festa".
"É uma verdadeira corrida contra o Brasil e até o final do ano vamos ver o tamanho desse desastre", complementou Valle.
Nesta semana, um documento obtido pela TV Globo mostrou que a gestão atual do Ministério do Meio Ambiente cogitou acabar com o Fundo da Amazônia, criado há cerca de 14 anos para financiar ações de redução de emissões geradas pela degradação florestal e pelo desmatamento.
Outro ponto de preocupação nos dados apontados pelo Inpe estão relacionados ao Cerrado brasileiro, que registrou ainda mais pontos de queimada em junho do que a Amazônia: 4.239 focos, o maior número para junho desde 2010, quando 6.443 focos haviam sido detectados.
No acumulado do semestre, o Cerrado somou quase 11 mil focos de queimadas; o número é o maior para o período desde 2010.
Os dados históricos do Inpe também apontam que deve haver ainda mais focos mensais de queimada no bioma pelos próximos três meses. No ano passado, foram detectados 41.937 focos de calor no Cerrado somente no período de julho a setembro.
Os dados de queimada e do desmatamento da Amazônia aparecem em um momento no qual o governo ainda se vê pressionado pelas mortes não esclarecidas do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, no Vale do Javari, perto da fronteira com o Peru. Ambos estavam na região para denunciar a prática de pesca ilegal e as ligações com o crime organizado.
Vale lembrar que o Brasil em número de assassinatos ligados ao direito à terra e questões ambientais, com a maioria deles ocorrendo na Amazônia, uma área quase do tamanho dos Estados Unidos continentais. Entre 2012 e 2020, 317 assassinatos desse tipo foram registrados no Brasil, segundo a Global Witness.