O médico Manuel João Oliveira que está na linha de frente da Covid-19 há mais de um ano, admite que Corumbá vive o pior surto da doença.
Manuel João explicou que já não há mais leitos disponíveis e que tem entubado pacientes sem comorbidades e com as duas doses da vacina .
Ele salientou a importância do isolamento social e admitiu as mudanças na cepa que se tornaram muito mais letais. O médico teme a falta de condições hospitalares e também da mão de obra humana, pois muitos profissionais estão deixando o hospital com medo de contrair o vírus.
A situação se tornou mais alarmante quando foi entubado um médico jovem que havia tomado as duas doses da Coronavac. “ Temos uma cepa nova circulando e as pessoas ignorando . Convivo com a morte, o choro e a dor diariamente. É assustador”, disse o médico que assumiu o setor de Covid desde 2020. “Estamos tratando pacientes de outras cidades. É preciso tomar consciência e procurar ajuda no começo da doença, pois geralmente quando chegam no hospital já estão com 10 dias de infecção”, completou.
A administração do hospital de Corumbá está criando mais 10 leitos mas frisa que a população precisa se conscientizar, pois a equipe médica que está a frente trabalhando está cansada de batalhar contra o vírus e a maior parte da população não fazendo a sua parte. “Pois o problema não é só a doença em si, mas também as várias sequelas que ela deixa”, ressaltou o médico.
Segundo Manoel João até dez dias atrás o hospital tinha montado uma estrutura com 60 leitos apenas para a Covid. “E nunca tínhamos visto lotar e dentro desses dez dias começou a encher e ter fila no Pronto Socorro e na Unidade de Pronto Atendimento.
Durante a live da Secretaria de Saúde do Estado (SES) desta quarta-feira (2), o secretário Geraldo Resende anunciou que Mato Grosso do Sul terá que buscar ajuda de outros Estados com leitos de UTI. O primeiro paciente já saiu de Bonito para Porto Velho hoje cedo, segundo Resende. Em um gesto de reciprocidade, o Estado de Rondônia disponibilizou 10 leitos de UTI para pacientes de Mato Grosso do Sul.
“Aceitamos a oferta de Rondônia e vamos aceitar também a ajuda humanitária que nos foi oferecida pelo Estado do Espírito Santo”, revelou o secretário, ressaltando quadro dramático que estamos vivendo. “Estamos batendo recordes de contaminação e mortes no País”, disse, chamando a atenção para a falta de colaboração dos cidadãos e cidadãs.
“Parece que houve um desapego à vida, tamanho descaso com as regras sanitárias mais básicas”, desabafou. Com taxa de contágio em 1,12, mais 2.176 sul-mato-grossenses foram contaminados pela coronavírus nas últimas 24 horas, de acordo com o Boletim Epidemiológico da SES, desta quarta-feira (2). Outros 1.712 testes se encontram em análise no Lacen e 11.506 casos ainda não foram encerrados nos sistemas dos municípios.
O total de casos em Mato Grosso do Sul desde o início da pandemia passou para 294.853 e a média móvel de hoje que está batendo novo recorde é de 1.895. Estão recuperados 264.466 pacientes.
Mais 50 mortes foram registradas em 24 municípios, elevando a média móvel para 49,3.
A secretária-adjunta Christine Maymone chamou a atenção para o feriado e as reuniões de família. “Antes de aceitar o convite para festa de aniversário, lembre-se do número de pessoas que estão na fila de espera por um leito em hospital”, destacou.
Confiram abaixo o áudio do médico Manoel João: