A redação do Capital do Pantanal embarcou numa expedição à Estrada Parque, via turística da zona rural de Corumbá, que dá acesso ao lindo Porto da Manga, região que atrai centenas de turistas do Brasil e do Mundo todos os anos, para admirar a beleza do Pantanal Sul-Mato-Grossense.
A visão é desoladora. Não existe mais o verde das árvores, nem aves são vistas asseando pelo céu azul e nem os animais sobreviventes resistem as condições críticas. O ano de 2020 entra para a história do bioma pantaneiro como o mais crítico das queimadas nas últimas seis décadas. Setembro, que ainda nem acabou, já superou todos os registros do ano. As chamas no Pantanal já destruíram 21% de todo o bioma e ambientalistas apontam que a recuperação pode demorar mais de 100 anos.
Segundo dados do Programa Queimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), até o dia 23 de setembro, foram registrados 6.048 incêndios no bioma, considerado a maior planície alagada do planeta. O recorde anterior era de agosto de 2005, com 5.993 focos, em seguida vem agosto deste ano, que registrou 5.935 pontos de calor. Em 16 de setembro, o número de focos já superava qualquer valor registrado em meses de setembro anteriores.
O período mais úmido do Pantanal teve pouca chuva e 2020 teve o primeiro semestre com maior número de queimadas no bioma. Incêndios de grandes proporções ocorrem na região desde de abril, quando equipes de outros Estados e forças militares desembarcaram com equipamentos e aeronaves para combater o mal que se assola no Pantanal.
O rio Paraguai tem sofrido as consequências da seca histórica, nos pontos mais críticos, o nível da água não atinge nem 10 centímetros e a Marinha do Brasil já alertou para a dificuldade de navegação no leito. Recentemente, em 17 de setembro, um barco luxuoso que trazia o cantor sertanejo Eduardo Costa ficou encalhado em bancos de areia.
Situação ainda pior são para os peões que trabalham nas enormes fazendas da região. O calor é escaldante, há muita fumaça e há restrição de água até para beber. Trabalhadores rurais ouvidos pela redação, relataram que por vezes, a água que se acumula nos camalotes que ainda restam no rio, é a opção para matar a sede em meio a labuta.
O fogo atingiu áreas de preservação ambiental como o Amolar, 15 quilômetros de distância do período urbano de Corumbá, já na divisa com Mato Grosso. Famílias ribeirinhas precisaram sair de suas casas às presas, pois o fogo se aproximava com rapidez. Aproximadamente 50 homens, entre Bombeiros de Corumbá , do Estado do Paraná e brigadistas do Ibama/Prevfogo estão acampados na região sem previsão de retorno lutado contras as chamas para proteger casas ribeirinhas e a única escola da região da Barra do São Lourenço.
Quem já teve a experiência de passar pela Estrada Parque, hoje não reconhece o cenário. A vegetação está muito seca, grande parte já esturricada, assim como animais que eram facilmente vistos e hoje estão carbonizados. A secura da vegetação é um agravante para a ocorrência de novos incêndios.
A ponte de madeira sobre a vazante, primeira da MS 228 (Estrada Parque), que foi destruída pelo fogo em 5 de agosto deste ano, continua caída. Apesar do anúncio do governo de que a reconstrução iniciaria em até duas semanas após o acidente, não há nem sinais da obra ter começado. O Capital do Pantanal apurou informações junto a Agesul (Agência Estadual de Gestão Empreendimentos), Luiz Mário Anache, engenheiro chefe da agência, afirmou que a licitação para a construção de uma nova ponte ocorre em Campo Grande e que ainda não há previsão. O contrato de manutenção permanente, já vencido, também não foi renovado. O desvio implantado pela Agesul no local, como medida temporária para que fazendeiros tivessem acesso ao outro lado do leito, permanece como única opção.
Enquanto isso, a Polícia Federal (PF) apura responsabilidade criminal nos incêndios, que fez o governo do Estado decretar situação de emergência em 6 de agosto. A PF identificou pelo menos quatro fazendas que iniciaram fogo simultaneamente ainda no mês de junho. Informações reunidas estão sob a análise do Ministério Público Federal que decidirá se pode ou não instaurar o inquérito.