Entre os que nela viviam, havia artistas talentosos, produtivos, inventivos — e nada medíocres. Mesmo sem muitos espaços para mostrar o que produziam, mesmo sem depender de incentivos oficiais, seguiam criando com coragem e paixão. Nunca foram medíocres. O que lhes faltava não era talento, era visibilidade.
Um dia, a cidade foi escolhida para sediar um grande festival cultural, trazido de fora, como quem planta uma semente em solo fértil. E aquele solo era mais que fértil: era rico de identidade, de história, de natureza exuberante e de um multiculturalismo raro, por estar na confluência de três países. Um verdadeiro caldeirão de possibilidades criativas.
Quando o festival foi anunciado, a pessoa que naquele momento representava a Cultura local se deu conta de uma verdade incômoda: os artistas da própria cidade eram quase invisíveis para o seu próprio povo. Suas obras, suas músicas, seus espetáculos, quase nunca eram vistos, a não ser por aqueles que faziam questão de ir até suas casas ou ateliês. Era como se a arte local vivesse em segredo, sussurrando para poucos.
Tomada por empatia e visão, ela teve uma ideia: e se aquele festival servisse também para iluminar os talentos da própria cidade? E se os artistas que vinham de outros lugares encontrassem ali não apenas plateia, mas também pares, parceiros, pontes?
Reuniu um grupo de sonhadores e organizou uma verdadeira ocupação cultural: exposições espalhadas pelos bairros, espetáculos teatrais em praças, shows musicais em coretos, oficinas de dança, circo, gastronomia e artesanato em mercados e centros comunitários. A arte tomou as ruas, tomou os espaços, tomou o coração das pessoas.
O festival aconteceu. Mas o mais bonito foi o que veio depois.
Houve troca. Houve reconhecimento. Houve inspiração. Gente que nunca tinha pisado num palco passou a sonhar com ele. Crianças começaram a desenhar mais, dançar mais, cantar sem medo. Pessoas passaram a consumir arte feita ao lado de casa, a comprar o que era produzido ali, a valorizar o que era de dentro, não só o que vinha de fora. E com isso, a arte começou a gerar renda, trabalho, oportunidades — como sempre pôde e pode.

E assim fez ecoar o verso do poeta: “Todo artista tem de ir aonde o povo está.”
Porque a arte salva, sim. Mas ela também movimenta a economia, cria empregos, alimenta sonhos e fortalece vínculos. Ela cuida da mente, do coração e da alma. E, sobretudo, ela mostra que não há periferia para o talento, nem margem para a beleza. Basta dar espaço.
E essa cidade, uma vez esquecida, passou a ser lembrada. Por seus artistas. Por sua arte. Por sua gente.
E essa cidade talvez nunca existiu. Se existiu, foi esquecida.
Salim Haqzan, 2025
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