O frio da noite não desanimou os festeiros, que mantiveram viva a tradição de banhar o santo nas águas do rio Paraguai. (Foto: Capital do Pantanal)“Se São João soubesse, que hoje era seu dia, descia do céu à terra com prazer e alegria!” Era com esse canto tradicional que os festeiros ecoavam pelas ruas de Corumbá na última noite do Arraial do Banho de São João, comemorado nesta segunda-feira, 23 de junho. A descida dos andores até a prainha do Porto Geral reuniu fé, emoção e herança cultural pantaneira, num dos momentos mais aguardados da festa.
Durante a manhã, alguns grupos desceram para lavar as imagens dos santos no Rio Paraguai, um gesto de devoção e preparação. Mas é à noite que o ritual ganha força. A maior parte dos festeiros desce cantando, dançando e puxando cortejos repletos de cores, promessas e histórias familiares.
A tradiação diz que passar por debaixo de sete andores, garante um bom casamento em breve. Foto: Capital do PantanalMoradores e turistas acompanharam a movimentação pela Ladeira Cunha e Cruz, em direção ao rio, onde os santos foram banhados, um a um, entre orações, vivas e sorrisos. E para quem acredita nas tradições populares, passar embaixo de sete andores pode garantir um casamento em breve. A simpatia é levada a sério por muitos devotos, que atravessam a multidão em busca da bênção.
“Sentimento de emoção, renovação, de fé. Toda vez que nós descemos com o andor na beira do Rio Paraguai, nós renovamos a nossa fé. E pedimos também saúde. Eu peço sempre saúde para os meus filhos de santo, para os meus filhos e todos os meus familiares que estão presentes”, disse Elenina Paula de Souza da Silva, que há 18 anos participa da descida com o seu andor. “Já realizei uma promessa, mas continuo renovando a fé sempre. Para o ano que vem, vamos fazer o festejo de dois dias.”
Participando ativamente da manifestação, o prefeito Dr. Gabriel destacou o papel dos festeiros na preservação da tradição centenária. “Nós somos patrimônio cultural imaterial do Brasil. É a fé, é a nossa cultura, é a tradição que cada um deles mantém”, afirmou. “É tradição viva, mais de 140 anos de história, protagonizados exclusivamente pela população de Corumbá”, completou o chefe do executivo que carregou o andor da prefeitura na descida da ladeira até o rio, lado a lado com os mais de 100 festeiros certificados pelo município.
Dr. Gabriel, prefeito do município, carregou o andor da prefeitura até o rio. Foto: Clóvis Neto - Ayrton Benites/PMCAntes da descida dos andores, a missa na igreja Nossa Senhora da Candelária reuniu fiéis para celebrar a data. Após o banho dos santos, a festa continuou com a tradicional roda de Siriri e Cururu, que animou a noite e reuniu diferentes gerações, mantendo viva a essência pantaneira da celebração.
“É uma tradição que aprendi com meu avô e minha mãe, e a gente sempre vinha. Não era tão famoso assim como está hoje, mas eu amo tudo que envolve o São João e faço questão de participar da festa com toda a minha dedicação ao longo da vida”, contou Neiva Gonçalves Dias, que acompanha a celebração há quase 50 anos. “Eu passo embaixo do andor e peço saúde, paz… para o mundo inteiro. É esse pedido que faço com mais força.”
A descida dos andores movimentou a ladeira Cunha e Cruz. Foto: Capital do PantanalPara Carlos Diniz, de 80 anos, a fé é um legado de família. “Meus pais eram festeiros e me levavam para ver essa festa maravilhosa. Sou corumbaense, sou pantaneiro, sou do meu São João. Aquele andor pequeno que passou por aqui é dos meus bisnetos. É a continuação dessa tradição. Se Deus quiser, eles vão dar continuidade.”
Anne Khristiny Garcia, que participa com seu andor há oito anos, também leva no coração as graças recebidas. “Faço em prol ao meu neto, às muitas graças que já recebi dele mesmo, de São João Batista.”
Noite foi encerrada com show de Michel Teló. Foto: Clóvis Neto - Ayrton Benites/PMCA festa terminou com muita música e alegria. O cantor Michel Teló subiu ao palco já na madrugada dessa terça-feira, 24 de junho, e embalou o público com seus sucessos. A multidão dançou, cantou e celebrou mais um ano da festa que para Corumbá representa a identidade, memória e fé que corre junto as águas do Rio Paraguai.
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