Corumbá é uma das cidades mais ricas de Mato Grosso do Sul. Detentora de um dos maiores PIBs do Estado, localizada na fronteira com a Bolívia e às margens do Rio Paraguai, é porta de entrada do Pantanal. Possui minério em abundância, água doce, posição geográfica estratégica e uma cultura profundamente enraizada na história do Centro-Oeste brasileiro. Ainda assim, segue esquecida.
O colapso logístico é evidente. O aeroporto internacional está praticamente inativo. O único voo comercial em operação, da Azul, já tem previsão de encerramento. Mesmo quando existia oferta, uma passagem simples para Campo Grande chegava a custar entre R$ 1.800 e R$ 2.000. Agora, os voos estão sendo remarcados com embarque direto por Campo Grande, aumentando o isolamento da cidade.
Embora tenha sido anunciado investimento para modernizar o aeroporto de Corumbá, sem voos regulares isso soa como ironia. A população não quer promessa em papel, quer avião no céu.
Enquanto isso, o Governo do Estado anunciou novos voos para Bonito e Dourados, com saídas de Guarulhos. Para esses destinos, um avanço. Para Corumbá, o silêncio segue ensurdecedor.
Por terra, a situação é crítica. A BR-262, principal ligação com a capital, está degradada. Buracos, desníveis, animais na pista e trânsito pesado de caminhões de minério colocam vidas em risco. Não à toa, é chamada por muitos de estrada da morte.
Esse cenário eleva os custos logísticos e penaliza a população. Estradas precárias aumentam o preço do transporte, reduzem a competitividade dos produtos locais e travam o desenvolvimento regional. Empresas escoam riqueza, mas pouco deixam em retorno para a cidade.
Especialistas alertam que o tráfego constante de caminhões pesados destrói o pavimento da BR-262. A manutenção se torna cada vez mais inviável, pois a principal fonte de cascalho, essencial para recompor o leito da estrada, está a mais de 150 km dos trechos danificados, elevando os custos. Técnicos sugerem a abertura de uma nova via, ligando a região da Manga ao Passo da Lontra, para redistribuir o tráfego e aliviar os pontos críticos.
Enquanto isso, toneladas de minério saem diariamente de Corumbá. O lucro vai embora. Os impactos ficam. Mineradoras lucram bilhões, enquanto a cidade convive com buracos, insegurança e ausência de investimentos.
E não bastasse a crise estrutural, Corumbá perdeu a Vara da Fazenda Pública e de Registros Públicos. A extinção compromete o julgamento de temas como saúde, contratos administrativos e regularização fundiária. A Justiça local se vê ainda mais sobrecarregada, e a população, mais distante do acesso à jurisdição especializada.
Corumbá já teve porto fluvial em plena operação, cinema, fábrica de bebidas, cooperativas de crédito, alfândega, órgãos públicos estruturados e diversas agências bancárias. Hoje, boa parte dessa estrutura desapareceu. Corumbá, infelizmente, já é conhecida como a cidade do “tinha”.
Reativação do aeroporto. Recuperação integral da BR-262. Transporte intermunicipal digno e viável. Compensação proporcional à extração mineral, com reinvestimento real na cidade. Essas são demandas urgentes.
Corumbá não pede favor. Corumbá exige respeito.
Se fosse uma cidade em guerra, o isolamento não seria maior.
A guerra que enfrentamos é contra a omissão e o silêncio de quem deveria nos defender.
Artigo escrito por: Anne Andrade, advogada, OAB/MS
Foto: Sylma Lima, Capital do Pantanal
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