A ponte sobre o rio Paraguai não é apenas uma estrutura de concreto. É o elo que mantém Corumbá conectada ao resto do país, por onde passam vidas, trabalho, saúde, educação e abastecimento. Quando ela dá sinais de fragilidade, não é apenas uma questão de engenharia: é uma questão de sobrevivência coletiva.
A recente decisão que suspendeu a liminar determinando reparos emergenciais na ponte trouxe alívio técnico para o Estado, mas apreensão para quem depende diariamente dessa travessia. A medida judicial reconheceu a dificuldade de cumprir prazos curtos e a ausência de laudo formal, mas deixou em aberto o principal ponto: o risco imediato à segurança da população.
A liminar anterior, expedida pela 2ª Vara Cível de Corumbá, buscava garantir medidas urgentes diante de fissuras, buracos e vergalhões expostos. Entre as determinações estavam reforço de sinalização, controle do tráfego pesado e início dos reparos estruturais. Essas ações tinham caráter preventivo, amparadas pelo princípio da precaução, que autoriza medidas rápidas diante de perigo iminente, mesmo sem laudo técnico completo. A suspensão da decisão, porém, afrouxou o senso de urgência.
É compreensível que o cumprimento de prazos exíguos possa ser inviável do ponto de vista administrativo. Licitações e autorizações de órgãos federais exigem trâmites específicos. Mas nada impede que ações imediatas e proporcionais sejam adotadas enquanto o processo segue seu curso. Medidas como reforço de sinalização, controle de peso dos caminhões e interdição parcial de trechos críticos não dependem de autorização complexa, dependem apenas de vontade administrativa.
O argumento da competência federal tampouco elimina a responsabilidade do Estado e do Município. A Constituição Federal é clara: proteger a população e garantir a segurança no trânsito são deveres comuns de todas as esferas. A ponte pode ser patrimônio da União, mas o dever de preservar vidas é compartilhado.
O cenário atual é grave. A cada novo dano, multiplicam-se os riscos e as incertezas. Com a suspensão da liminar e a retirada da multa diária, desaparece também o instrumento que poderia pressionar por providências concretas. E se antes, com prazo e sanção, as respostas já eram lentas, o que esperar agora? Quem se responsabilizará por eventuais acidentes, prejuízos e danos materiais? Quantos veículos precisarão sofrer avarias, quantas vidas terão de ser colocadas em risco para que a urgência volte a ser reconhecida?
Corumbá vive hoje um isolamento crescente. Sem voos comerciais e com estrada única de acesso, ficar sem essa ponte significa interromper o pulso vital da cidade. O impacto seria incalculável, econômico, social e humano. A decisão judicial, ao privilegiar a forma sobre a urgência, deixa o município e toda a região vulneráveis.
O caminho mais equilibrado seria a manutenção de medidas emergenciais mínimas, enquanto se definem as etapas de execução definitiva. O direito não deve servir para justificar a inação diante do perigo, mas para garantir a resposta proporcional e tempestiva.
A sociedade corumbaense não pede milagres. Pede responsabilidade, transparência e ação. A ponte sobre o rio Paraguai é mais do que um símbolo: é a linha que separa a rotina da calamidade. Antes do rito, vem a urgência. E, neste caso, agir agora é o único caminho possível.
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