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COLUNA

Entrelinhas

Anne Andrea Fonseca de Andrade

Quando o tempo anda e a ponte fica

A engenharia não responde a intenções; responde ao que é feito

19 novembro 2025 - 10h58

As imagens recentes da ponte sobre o Rio Paraguai mostram um cenário que já havia sido apontado meses atrás: buracos que se expandem, trechos deteriorados e vergalhões expostos que revelam um desgaste que não se resolve com comunicados ou expectativas. A estrutura permanece vulnerável, enquanto o fluxo diário de veículos continua exatamente o mesmo. O tempo avança, e a engenharia acompanha o que é executado, não o que é prometido.

A ponte, neste contexto, deixou de ser apenas uma obra de engenharia. Ela se tornou um espelho da capacidade de resposta das políticas públicas que deveriam garantir sua conservação. Quando uma estrutura essencial permanece vulnerável por tanto tempo, mesmo após ter sido oficialmente reconhecida como prioridade, o que se evidencia não é a falha de um único órgão, mas um desajuste maior: a distância entre o que se anuncia e o que se entrega. Nesses momentos, não é o concreto que fala, mas o funcionamento da própria máquina pública.

Houve anúncios de recuperação. Houve decisões judiciais fixando prazos emergenciais. Houve suspensões alegando inviabilidade técnica. Houve autorização de licitação para uma obra futura. A sequência de declarações é extensa, mas o que realmente importa é o que está diante dos nossos olhos: as intervenções concretas, visíveis e estruturais não começaram.

A travessia não parou. A carga não diminuiu. O tempo não desacelerou. Cada caminhão que passa, cada dia que avança e cada chuva que cai aprofundam um processo físico que não se interrompe por expectativa administrativa. É justamente nessa combinação de fatores que surge a pergunta que não precisa ser dirigida a alguém em específico para fazer sentido. Em que momento a necessidade real deixou de acompanhar o ritmo do problema?

Não se trata de personalizar responsabilidades. Trata-se de reconhecer que existe um descompasso evidente entre o que foi publicamente afirmado e o que foi efetivamente executado. Esse descompasso não é retórico, é material. Ele age sobre a estrutura, que continua exposta a peso, vibração, intempéries e envelhecimento sem a contrapartida adequada de manutenção. O resultado é visível e incontornável.

Pontes não se mantêm com expectativas. São preservadas por decisões eficazes, presença técnica constante e obras iniciadas no tempo adequado. O tempo adequado, neste caso, já passou. Quando constatamos que a ponte permanece praticamente no mesmo estado apontado meses atrás, apenas com sinais de desgaste ampliados, percebemos que não estamos diante de um debate sobre versões e discursos, mas diante de uma realidade que permanece inalterada.

A estrutura está parada no tempo. O tempo, não. E essa assimetria cria uma pergunta que não desaparece por falta de resposta. Por quanto tempo mais a travessia seguirá se movendo enquanto as providências continuam estacionadas?

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