Enquanto autoridades discursam sobre metas climáticas, sustentabilidade e grandes eventos internacionais, as mulheres seguem morrendo em silêncio. O país fala em futuro verde, mas continua incapaz de garantir o direito mais básico: viver.
Fala-se em preservação ambiental, mas ignora-se a devastação humana que ocorre todos os dias dentro de casa, nas ruas e nos registros esquecidos das delegacias. O discurso da modernidade é incompatível com a prática de um Estado que ainda trata a violência de gênero como um problema secundário.
A violência contra a mulher é o crime mais anunciado do Brasil. As vítimas avisam, as denúncias existem, os boletins são registrados. Ainda assim, a resposta institucional segue lenta, fragmentada e burocrática. O Estado possui leis, estrutura e conhecimento, mas falta o essencial: prioridade. A omissão é constante, e a indiferença se tornou rotina.
A solução está posta e comprovada. O Protocolo de Prevenção Letal de Mulheres, aplicado em outros estados, identifica casos com risco de morte e obriga ação imediata das autoridades. Funciona porque é simples, técnico e humano: avalia o perigo, aciona a rede de proteção e impede que o próximo feminicídio aconteça. Não é uma utopia, é uma política pública possível. Basta querer.
Quando o Estado não age, escolhe o lado errado da história. Cada mulher morta é um atestado da falência das instituições que deveriam protegê-la. E cada vez que o poder prioriza discursos internacionais e agendas de prestígio enquanto ignora a violência cotidiana, revela que não é falta de recursos, é falta de interesse.
Não há futuro sustentável enquanto o presente for marcado por descaso. Não há justiça climática sem justiça humana. O que mata as mulheres não é apenas o agressor, é o silêncio do Estado, a lentidão das decisões e a ausência de vontade política.
A solução existe. Está escrita, testada e ao alcance das mãos. O que falta é decisão, coragem e consciência de que proteger vidas não é favor é dever.
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