Dezembro chegou a Corumbá, mas a cidade não mudou de expressão. A Dom Aquino continua escura, a Praça da Independência permanece silenciosa e o Porto Geral não ganhou um único ponto de luz. Para quem caminha pelo centro, a sensação é clara: o clima de fim de ano não chegou.
Por muitos anos, Corumbá criou um hábito. Quando dezembro se aproximava, o Jardim da Independência virava “Jardim de Natal”. Coreto iluminado, casa do Papai Noel, árvore alta, portais nas entradas, presépio no lago e apresentações quase todas as noites. As crianças sabiam para onde ir. As famílias também.
Agora, quem passa pelo mesmo jardim encontra apenas o jardim. A praça parece suspensa no tempo, como se aguardasse um acender que não veio. Nenhuma luz, nenhum portal, nenhuma programação anunciada. Para uma cidade que se acostumou a ver dezembro começar ali, a sensação é de ruptura: não desapareceu só o enfeite; desapareceu o ritual que marcava o fim do ano.
O que existe é um silêncio que não combina com a memória recente da cidade. A praça, antes ponto de encontro, cenário de fotos e parada obrigatória, tornou-se um espaço comum. Nada convida, nada anuncia, nada acolhe.
Os elementos que sempre marcaram dezembro eram discretos: a árvore no coreto, o portal iluminado, o presépio no lago, uma programação simples que animava as noites. Pequenos gestos que davam clima à cidade.
Quando isso some, algo se desloca. A praça deixa de ser ponto de encontro, a noite deixa de ser convite, a cidade deixa de se reconhecer. Corumbá sempre fez muito com pouco. Era a simplicidade que emocionava, era o brilho mínimo que transformava o centro, era a alegria das crianças que iluminava o jardim.
E, quando até isso falta, não é apenas luz que se apaga. É a experiência de pertencermos uns aos outros que se enfraquece. O Natal não cria a cidade; apenas revela o que ela escolhe acender.
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