Se você caminhar pelas ruas e simplesmente olhar para cima, a cena é quase inacreditável. Fios soltos, enrolados, pendurados entre postes, fachadas e marquises. Emaranhados que cruzam ruas como se fizessem parte da arquitetura urbana. É um avião? Não. São os cabos. Muitos deles sem função, todos eles perigosamente fora de controle.
Esses fios pertencem, em sua maioria, a empresas de telefonia, internet e TV a cabo. Quando um serviço é cancelado, os cabos raramente são retirados. Novos são lançados sobre os antigos, e o acúmulo cresce. Em muitos casos, os fios rompem, caem ou ficam pendurados, ampliando o risco de acidentes, de choques a incêndios.
O problema mistura descuido, falha na fiscalização e uma preocupante aceitação da desordem. Com o tempo, o olhar se acostuma, e o que deveria causar alerta vira paisagem. Mas basta uma ventania ou uma poda malfeita para que o descaso revele suas consequências.
Além dos riscos, os fios prejudicam a paisagem urbana. Poluem visualmente, transmitem desorganização e expõem o quanto ainda precisamos avançar em estrutura, segurança e respeito ao espaço comum.
A legislação é clara. Cabe o poder público notificar as operadoras para que removam os cabos sem uso. As empresas têm prazos para regularizar. Já a prefeitura tem o dever legal de fiscalizar, autuar e, se necessário, providenciar a retirada direta.
Mas a prática não acompanha a norma. Os cabos continuam lá: visíveis, perigosos, ignorados.
A cidade segue presa por fios e por omissões. Quando o poder público não cumpre seu papel e as empresas se eximem da responsabilidade, o resultado é esse: insegurança, poluição visual e a fragilidade da gestão urbana exposta a céu aberto.
E não se trata apenas de estética. Trata-se de segurança, de responsabilidade legal, de respeito à coletividade.
Enquanto isso, seguimos caminhando sob fios soltos, sujeitos ao risco e ao silêncio institucional.
E o Ministério Público?
Espera-se que instituições com legitimidade ativa, como o MP, que podem agir de ofício na defesa do interesse coletivo, acompanhem e adotem providências. Até agora, não há notícia de ação concreta nesse sentido.
Quem fiscaliza quem não cumpre a lei?
Quem cobra quem deveria cobrar?
A resposta, por enquanto, é o silêncio.
Mas ele também tem prazo de validade.
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