Quem trafega pela BR-262, entre Campo Grande e Corumbá, percebe rapidamente que não se trata de um problema pontual de trânsito. Qualquer motorista identifica o excesso, a compactação do tráfego pesado e a perda de fluidez. O que diferencia o olhar técnico é saber que isso não é acaso: é previsível, mensurável e administrável.
Classificada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) como corredor logístico federal, a BR-262 concentra tráfego pesado ao longo de todo o ano. Em determinados períodos, como no fim do ano, esse fluxo se intensifica, não criando o problema, mas expondo de forma ainda mais clara uma sobrecarga que já é estrutural. Planejar para essa realidade é obrigação, não escolha discricionária.
No período noturno, repetem-se sequências longas de caminhões trafegando sem espaçamento adequado, formando blocos contínuos que inviabilizam ultrapassagens e impõem condução defensiva permanente aos veículos menores. O leigo sente o risco. O técnico reconhece o padrão. Quando ele se repete, deixa de ser exceção e passa a indicar falha estrutural de ordenamento do tráfego.
O Código de Trânsito Brasileiro é claro quanto à exigência de distância de segurança, fluidez e condução compatível com as condições da via. A recorrência de comboios compactos revela tolerância institucional ao descumprimento dessas regras, agravada por fiscalização intermitente, especialmente à noite. Não se trata de ausência de norma, mas de opção pela não aplicação.
Do ponto de vista técnico, rodovias e pontes operam dentro de limites de carga e de fadiga estrutural. A concentração de veículos pesados no tempo acelera o desgaste e exige monitoramento permanente. Esse é um dado elementar da engenharia de transportes. Ignorá-lo não o torna menos verdadeiro; apenas transfere o custo ao usuário comum.
A BR-262 é uma rodovia federal, com gestor definido. Compete ao DNIT avaliar a capacidade operacional, ordenar fluxos, antecipar picos sazonais e intervir quando a operação se aproxima de limites críticos. Quando esses sinais são visíveis a qualquer cidadão e, ainda assim, nenhuma ação proporcional é adotada, a omissão deixa de ser técnica e passa a ser administrativa.
O que ocorre nesse trecho não é exceção. Repete-se em outros corredores logísticos do país. Mas aqui, na principal ligação entre a Capital e o Pantanal, o impacto é direto sobre quem trabalha, produz, estuda e depende da rodovia para viver.
Painéis eletrônicos pedem atenção aos motoristas. Atenção não substitui gestão.
Quando o risco é visível a todos e o Estado não age, a omissão deixa de ser falha e passa a ser escolha.
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