O Brasil volta a discutir ferrovias como parte da integração logística do continente. A Malha Oeste, que liga o interior do país à fronteira oeste da América do Sul, reaparece em debates sobre exportação, competitividade e conexão entre mercados. Projetam-se bilhões, calculam-se ganhos, atualizam-se mapas. O futuro procura velocidade.
Mas, antes que os trilhos avancem rumo a novos corredores internacionais, o plano se choca com a realidade: a estação ferroviária em Corumbá, preservada juridicamente desde 1997 e esquecida materialmente desde então. Ela é tombada pela Lei Estadual nº 1.735/1997, norma que garante proteção estética, mas não estabelece diretrizes de uso público. Um patrimônio histórico transformado em área vulnerável, com grades rompidas, estrutura exposta, mato alto e uso irregular. No lugar de uma porta, um vazio.
Nesse contexto, preservar não é apenas um gesto de memória local. É uma ação estratégica de integração internacional. Uma estação inativa na fronteira não representa apenas abandono urbano; representa um elo indefinido na cadeia logística que o país deseja fortalecer. Sem integrar o patrimônio ao sistema, o Brasil exporta riquezas, mas não estrutura presença.
Quando o país planeja corredores ferroviários conectados a rotas marítimas, zonas produtivas e demais sistemas continentais, mira o comércio global. Mas o comércio global começa na ponta da linha. Uma estação sem função pública significa mais do que falta de cuidado. Significa ausência de método na política de integração.
Trilhos internacionais exigem mais que engenharia. Exigem Estado. A fronteira não é linha cartográfica: é política pública em forma de infraestrutura. Quando a estação permanece sem destino, não é apenas a cidade que deixa de participar do desenvolvimento. É o próprio país que abdica de ocupar plenamente o território por onde pretende dialogar com o mundo.
A questão não é quando o trem cruzará fronteiras novamente.
A questão é quando o Brasil organizará, de fato, a sua porta de entrada.
Sem isso, o futuro passa. Mas não chega.
Foto em destaque: Eduardo Anizelli, Folhapress
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